sábado, 31 de julho de 2010

Habitantes da noite

Jornal Cachoeiras 31 07 2010

Das espécies de ratos existentes em nosso meio a ratazana, gabiru ou rato de esgoto é a que possui maior importância com relação à saúde pública. Esses asquerosos habitantes da noite difundem leptospirose, tifo, antavirose e peste bubônica entre outras zoonoses; causam prejuízos econômicos contaminando alimentos, destruindo utensílios e edificações, e dão à cidade um aspecto de desleixo e insalubridade. Seu surgimento durante o dia é indicativo de altíssima infestação
Estes comensais fossoriais são agressivos e bem organizados. Suas comunidades - formadas por adultos dominantes e, velhos, doentes e fracos dominados - são neofóbicas, isto é, possuem aversão a tudo que é novo; na presença de uma nova fonte de alimento os membros sobrepujados serão usados no primeiro contato, se morrerem o restante da colônia a ignorará.
A estabilidade da colônia de Rattus norvegicus é dependente de três condições básicas: água, abrigo e alimentos encontrados no lixo e seus bolsões. O seu tamanho tem relação direta com a oferta de nutrimentos: quanto maior mais indivíduos nascerão, e com sua diminuição, a baixa fertilidade, a competição entre colônias e o canibalismo serão fatores limitantes a proliferação.
A utilização de venenos como medida de controle representa risco às espécies animais não alvos, além de acarretar impacto ao meio ambiente pela contaminação da água e do solo. A desratização química é utilizada quando as atividades preventivas - que passam pela educação sanitária, tratamento do lixo e saneamento básico – são ineficientes ou não são adotadas; o uso de raticidas por si só não representa eficácia nas ações de combate e sua utilização requer cuidados e bom senso na aplicação, para que acidentes desagradáveis não aconteçam. Sem um programa de anti-ratização adequado, as atividades de controle serão incipientes, já que a dinâmica populacional desses sinantrópicos é bastante acentuada.
Contribua com o setor municipal de combate aos roedores não jogando detritos nas ruas e margens dos rios, mantendo limpos quintais e terrenos baldios, evitando entulhos no peri-domicílio e dispondo o lixo na rua pouco antes da passagem do caminhão de coleta.

sábado, 24 de julho de 2010

Rosa de mau cheiro e areia grossa

(Jornal Cachoeiras 24/07/2010)

Conhecido pelos gregos da antiguidade como a "rosa de mau cheiro", há mais de cinco mil anos é utilizado em virtude das suas propriedades medicinais. Não é a toa que Nero, o incendiário, abusava do seu consumo, chegando até a interromper o consumo de outro alimento. As culturas egípcia, indiana, grega e romana já sabiam que essa raiz arrestava qualidades na prevenção e cura das doenças.
O alho (Allium sativum) possui entre outras inúmeras propriedades medicinais, atividade antimicrobiana, antiparasitária e antiviral. Nas feridas e na pele inflamada inibe a agregação plaquetária e ativa a fibrinólise facilitando o processo de cicatrização. São parte de sua composição as fructosanas, alliin (um derivado do aminoácido cisteína, responsável pelo seu odor característico), vitaminas, adenosina, e sais minerais. Pesquisadores descobriram que o alho aumenta a atividade das células exterminadoras naturais (natural killer), destruidoras das células cancerosas.
Também remonta à antiguidade, as propriedades medicinais do açúcar na cicatrização de feridas. Pesquisas recentes revelam seu grande poder na formação de tecido de epitelização nas infecções da pele dos animais.
Este carboidrato possui ação antibacteriana fenomenal e não foram demonstrados reações adversas e efeitos colaterais quando utilizados em animais diabéticos.
O açúcar cria um ambiente com baixo teor de umidade e conseqüente alta osmolaridade no tecido infectado, diminuindo a proliferação de microorganismos patogênicos, além de atrair para a ferida os macrófagos (células brancas), especializados na remoção de tecidos desvitalizados, presentes nos processos necrosantes. Este eficiente cicatrizante possui outra grande vantagem, como o alho, é acessível e barato. Os cremes e pomadas disponibilizados pela indústria farmacêutica são muito caros e alguns inacessíveis a maioria dos consumidores.
A propósito, a palavra açúcar vem do árabe “al zukkar” e tem sua origem primitiva no termo sânscrito “sharkara” que significa “areia grossa”.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O cão do futuro

(Jornal Cachoeiras 17 07 2010)

Correntes, coleiras e enforcadores serão coisas do passado, assim como os claustrofóbicos canis e suas insalubridades. A carrocinha será substituída pelo “camburacão”, veículo adaptado a transportar para os centros de reabilitação - tipo as penitenciárias de hoje, só que mais humanos - os cães que cometerem crimes e delitos ao seu meio social. O cão do futuro continuará sendo o maior amigo do homem, lhe prestará utilidade e inteligência numa forma harmônica e desinteressada.
Esses animais são dotados de diversas aptidões. Como co-terapeutas são treinados para detectar tumores malignos, principalmente do aparelho urinário, quando sentem o odor de substancias exalado pela urina, e percebem uma crise hiperglicêmica em pacientes diabéticos; choramingando, latindo e tremendo.
O bem estar proporcionado pelo animal de estimação e a vantagem de tê-los presente participando da dinâmica familiar são imensuráveis; fazem companhia, minimizam o stress do cotidiano, geram segurança, dão afeto e acima de tudo, são fieis e amam incondicionalmente.
São muitos os relatos da sua importância no convívio com o homem; participando na reabilitação de doentes mentais, acompanhando o desenvolvimento infantil, no auxílio aos deficientes físicos, dividindo a vida com os solitários e com os que de alguma forma vêem nesses domesticados seres a essência divina.
Os médicos veterinários além das avançadas terapias e dos modernos meios diagnósticos utilizarão procedimentos etológicos e a psicologia animal em prol do bem estar do seu paciente.
Como nem tudo é paraíso, os cidadãos caninos do futuro serão também arrastados para os distúrbios e conflitos das famílias as quais pertencem, absorvendo os erros físicos e mentais do averno humano.

sábado, 3 de julho de 2010

Totó canarinho

(Jornal Cachoeiras 03/07/2010)

Para ele a copa do mundo não está tão emocionante assim, também pudera ter que desfilar nos jogos da seleção com aquela cafona fantasia amarela rodeada de babados verdes, não há pitbul que resista; alguns tecidos utilizados na confecção desses adereços podem até provocar-lhe alergias cutâneas.
A pele dos cães é periodicamente coberta por uma fina camada natural de secreção que a protege de agentes externos naturais ou artificiais que ameacem a sua integridade. Grande parte dos distúrbios que afetam esses animais advém de asseio inadequado, uso de produtos com ph impróprio, alimentação alergênica ou excesso de banho que acaba removendo aquela fina capa de proteção vital para a saúde da sua pele.
Outro motivo pelo qual não gostam da copa é ter que ouvir estrondosos puns emanados dos imprudentes artifícios explosivos. O homem é capaz de perceber ondas sonoras na freqüência de 16 a 20 mil hertz, já os cães as percebem nos limites de 10 a 40 mil hertz, na verdade o que escutamos a 500 metros eles ouvem a dois quilômetros e por incrível que pareça localizam a origem do barulho em seis centésimos de segundo e ainda escutam os inaudíveis ultra-sons com ondas perto de 60 kHz.
O pavor que os cães sentem ante a explosão de trovoadas ou fogos de artifício é atávico, no fundo sabem há séculos que raios atmosféricos e tiros matam. Sua capacidade auditiva é bem maior do que a nossa, o estouro de uma bomba que somente nos incomoda é insuportável para a aguçada audição canina. Alguns animais desorientados pelo medo fogem pra rua podendo ser atropelados, ou caírem estatelados vítimas de um súbito ataque cardíaco.
Os animais não devem receber afagos durante essas crises fóbicas, esta atitude pode reforçar ainda mais o seu comportamento de medo. Os paliativos sedativos e tranqüilizantes só atenuam o problema; tem-se notado bons resultados com a utilização da “dessensibilização programada” principalmente quando aplicada durante a fase de socialização. No tratamento o animal é exposto a um crescente e paulatino ruído sonoro até o controle dessa síndrome de pânico.