sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O ataque do cachorro louco

Jornal Cachoeiras 28 08 2010

Desde que o Imperador romano Cesar Augusto, para não ficar atrás de Julio César homenageado com o mês de julho, colocou 31 dias no seu agosto as coisas não deram certo para este mês carregado de agouros e superstições.
Agosto carrega fatos que corroboram sua negatividade - o start da primeira grande guerra, o suicídio de Vargas, a edificação do muro de Berlim, o início da matança entre Católicos e Protestantes na Irlanda, a desintegração de quase 150 mil pessoas em Nagasaki e Hiroshima, renuncia de Jânio Quadros, morte súbita de Juscelino Kubitschek e o ataque do cachorro louco. Não é a toa que a campanha anual de vacinação anti-rábica é realizada em setembro, logo após agosto.
Deixando as superstições e magias à parte, a verdade é que a grande luminosidade dessa época do ano incita o cio e a sexualidade dos mamíferos, e em conseqüência a promiscuidade e contendas com a inevitável disseminação do letal vírus da raiva, principalmente nos cães de rua. No Brasil o transmissor do Rabdovírus para os animais é o morcego hematófago (Desmodus rotundus). Na raiva humana o principal reservatório é o cão, mas outros mamíferos também podem estar envolvidos. A única forma de transmissão conhecida entre humanos é através do transplante de córnea.
Na Grécia antiga Aristóteles, o aluno de Platão, já alertava sobre o perigo da mordida dos cães raivosos, época em que pensavam que a sede intensa, insatisfação sexual, hiper excitabilidade ou ingestão de alimentos muito quentes causava raiva.
A partir do local mordido, arranhado ou lambido, as partículas virais contidas na saliva ganham os axônios das terminações nervosas, propagando-se em direção à medula espinhal e cérebro, numa velocidade de 1 mm por hora. A vítima fica consciente em toda sua progressão, vivenciando o quadro clínico da fase de excitação, com espasmos alucinantes da laringe e faringe e dores lancinantes ao ingerir água e alimentos, o que ocasiona um medo intenso de líquidos, daí o nome hidrofobia. Nesta fase pode ocorrer hostilidade, agressão, alucinação e ansiedade extrema decorrente de estímulos aleatórios visuais e acústicos. A fase paralítica termina em asfixia, coma e morte.
Animais susceptíveis a raiva devem ser vacinados anualmente, e acidentes com os mesmos requer atenção dos serviços de saúde impreterivelmente.
Vacine seu cão e gato contra a raiva, em beneficio de homens e animais.
“Homenageio com este trabalho o maior especialista em raiva que se teve notícia, meu professor de virologia Dr. Renato Silva que muito contribuiu com seu saber nas salas da UFRRJ.”

sábado, 21 de agosto de 2010

Que mico!

Jornal Cachoeiras 21 08 2010

Faltam menos de 10 % para a aniquilação total da Mata Atlântica, mas mesmo assim ela ainda detém a maior diversidade de todos os ecossistemas do planeta, só perdendo para as florestas de Madagascar, que também tem sérios problemas ambientais. Um único hectare da Atlântica comporta mais espécies de árvores do que todo continente europeu.
Oriundos da caatinga arbórea da região do Velho Chico e do Cerrado Baiano, as populações de sagüis de tufo preto (Callithrix penicillata) e o de tufo branco (Callithrix jacchus), crescem em progressão geométrica no novo lar, causando reflexos negativos na vida da mata fluminense.
Ameaçados estão o sagüi-da-serra (Callithrix flaviceps), o “caveirinha” sagüi-da-serra-escuro (Callithrix aurita) e o mico leão dourado (Leontopithecus rosalia). Também reclamam da “ocupação” os sabiás, os sanhaços e outros passeriformes que perdem seus ovos para os pequenos primatas nordestinos. Estes grileiros calitriquiídeos predam, roubam a moradia e saqueiam o alimento dos primatas cariocas. Sob o ponto de vista da saúde pública hospedam o herpes vírus e são um dos principais transmissores da temida raiva humana no Nordeste Brasileiro.
A invasão de um habitat por espécies não autóctones ocasiona outro problema, a temida hibridação com o crescimento de populações mestiças que tendem a tomar o lugar dos habitantes locais, pondo em xeque os programas de conservação.
Atualmente o animal exótico é a segunda maior ameaça à biodiversidade em todo mundo, só ficando atrás do desmatamento e da queimada. No país existe perto de meia centena deles, dos quais a rã touro, o mexilhão vermelho, o búfalo, o javali e o caramujo africano preocupam por sua alta dispersão. O mexilhão foi o único não solto na natureza; chegou a nós vindos dos rios chineses na água de lastro dos navios.
É uma tendência humana alimentar estes primatas silvestres, o que não é bom nem para eles e nem para o meio ambiente. O ideal seria removê-los do habitat ou, esterilizar suas populações através de meios contraceptivos, o que não é barato.
Há relatos da soltura de micos resgatados por órgãos de controle ambiental em atividades de fiscalização, colaborando com a dispersão dos sagüis invasores. Que mico!

sábado, 14 de agosto de 2010

O inseto da bananeira

Jornal Cachoeiras 14 08 2010

Este díptero culicóide de hábito diurno sorve nosso sangue não pra se alimentar - pois seu cardápio é constituído basicamente de extratos vegetais - mas para maturar os seus ovos.
O mosquito pólvora ou maruim – que em tupi guarani quer dizer mosca pequena - ataca principalmente no crepúsculo. Há muita coceira e dor local provocada pela presença de uma alergênica proteína na sua saliva, o que pode resultar em distúrbios na pele decorrentes dos microtraumas oriundos da intensa coçadura.
Por ser minúsculo não é muito notado e voa pouco, não se distanciando muito do seu local de eclosão; é mais ativo na estação quente.
Além do incômodo doloroso pode transmitir algumas enfermidades durante o repasto sanguíneo. Em algumas regiões do Norte é responsável por epidemias da “febre de Oropouche” e de outras encefalites viróticas no homem. Em locais endêmicos veicula o verme nematóide Wuchereria agente causador da filariose ou elenfatíase. É também responsável pela transmissão do vírus da língua azul (blue tong) nos animais biungulados.
Prolifera na matéria orgânica das quentes e úmidas matas riachos e brejos; o principal nicho para a sua reprodução é o pseudocaule, folha, engaço e coração da Musaceae (bananeira) em decomposição. Sua densidade é maior nas proximidades das plantações de banana.
Colocar telas finas nas portas e janelas, vestir calças e camisas de manga comprida e utilizar inseticidas com precaução são maneiras de se proteger da investida deste artrópode.
Uma receita caseira para aliviar a prurido e minimizar a vermelhidão na pele é colocar no local uma pasta espessa de maizena com vinagre.
È importante para o seu controle um manejo racional do cultivo da banana. O maruim também se alimenta no apodrecimento da casca do arroz e outros restos de plantações.
Seus predadores naturais provavelmente são os anfíbios e as aves.