segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O último latido

Totó era mais um dos tantos que a cada ano engordam a triste estatística dos animais excluídos, dependentes da compaixão de alguns, e dos restos estragados do lixo de outros. A densidade de animais que perambula pelas ruelas e becos das cidades é tanto maior quanto mais enfrascada a consciência de seus responsáveis. Todos nós, como eles, resultamos da ação Divina. Foi-nos dado a inteligência e consequentemente a responsabilidade com a vida que nos cerca. Cães maltratados perambulando pelos caminhos humanos põe em xeque a saúde pública, existem as zoonoses - enfermidades comuns a homem e animais, como a temida raiva, a leptospirose e a leishmaniose em franca expansão. Mostra um comportamento paradoxal orar nos templos de Deus, enquanto maltratamos a sua criação. Totó era um cãozinho SRD alegre e amistoso, mesmo no período crítico da exclusão quando o sereno da noite congelava seu pequeno corpo, carcomido pela sarna e combalido pela desnutrição. Pior do que as mazelas orgânicas que carregava, era a decepção que tivera em quem mais confiara e sempre emprestou sua fidelidade. Certa tarde, acossado e escorraçado pela ignorância contemporânea, foi atropelado por um motorista alcoolizado; sem um “SUS-CÃO”, deu seu último latido naquela tarde de verão. O Natal é representado por um estábulo com nossos irmãos menores, ali presentes quando o Menino Deus se mostrou na Terra. Em nossas preces natalinas, não esqueçamos os animais domesticados, silvestres e exóticos. Adote um animal neste Natal. (Jornal Cachoeiras 15 12 2012)