terça-feira, 4 de setembro de 2012

Luzes na escuridão

(Jornal Cachoeiras 01 09 2012) Luzes enigmáticas intrigaram a cidade num passado não muito remoto, eram vistas em vários cantos e muitos são os relatos a seu respeito, uns devaneadores e outros nem tanto. O curioso é que o fato é mencionado por cachoeirenses idôneos e isentos de qualquer suspeita. Ouvi o relato de um morador do Tuim, que em certa ocasião, viu diversos pontos luminosos de vários tamanhos e cores sincronicamente se confluindo e se afastando na mata. Em todos os relatos há um ponto em comum, a maneira como se deslocam e a variação de sua intensidade luminosa. Boa Vista, Boca do Mato, Morro do Kleber e Parque Santa Luzia também foi palco desse fenômeno. Presenciei por duas ocasiões essas estranhas luzes no morro do Ganguri de Cima. Por algum tempo as bolas luminosas eram visíveis, até desaparecerem nas entranhas da escuridão. Naquele momento pensei em se tratar de caçadores, ou alguém indo pra algum lugar carregando tochas incandescentes, mas esta hipótese não batia com a velocidade de deslocamento; seria impossível alguém se mover no meio da mata com tamanha rapidez. Gases liberados por bactérias, plasmas, miragens, minerais fosforescentes, manifestações ufológicas e acontecimentos sobrenaturais são as inúmeras cogitações na tentativa de explicar tais luzes. Alguns dizem que é a “mãe do ouro” ou “boitatá” que vitimou Prestes em São Roque/SP em 1948, quando adentrou sua casa pela janela provocando-lhe queimaduras radioativas indolores, o homem consciente viu sua carne derreter até a morte algumas horas depois. Fenômenos parecidos têm sido relatados em vários lugares em todo mundo. Um exemplo são as “Luzes de Brown Montains”, na Carolina do Sul que tem intrigado cientistas. Aristóteles, em Metaurus descreve um fenômeno parecido com o “Fogo de Santelmo”, bastante relatado na literatura portuguesa, que deixou apreensivo muitos navegantes. Também são retratados no romance de Andy Anderson, “kill one, kill two” e base para o seriado de televisão Arquivo X. Seja lá o que for, essas luzes brilham no desconhecido e pelo jeito permanecerão na escuridão por muito tempo.

O cachorro louco

Dizem que agosto é sem gosto e carregado de acontecimentos trágicos, alguns ficaram na história, como o suicídio de Vargas, renúncia de Jânio, morte trágica de Kubitscheck, bomba atômica em Hiroshima, massacre de São Bartolomeu, ascensão de Hitler e construção do muro de Berlin. Agosto também é conhecido como o mês do cachorro louco, por isso que a campanha de vacinação antirrábica é realizada logo depois. Deixando as superstições e sortilégios de lado, a verdade é que a intensidade luminosa nessa época do ano mexe com a libido dos animais, que com patadas e mordidas brigam pela supremacia sexual; tudo que o vírus da raiva precisa pra sua propagação. Seu principal reservatório na área urbana é o cão que dissemina o vírus através da saliva, mas outros mamíferos também podem estar envolvidos. A única forma de transmissão conhecida entre humanos é através do transplante de córnea. Aristóteles, aluno de Platão, já alertava sobre o perigo da mordida de cães raivosos, quando acreditavam que sede intensa, insatisfação sexual, tara exacerbada e ingestão de alimentos quentes ocasionavam a doença. Através da arranhadura, mordida ou lambedura de mucosas, as partículas virais presentes na saliva do animal raivoso chegam aos axônios das terminações nervosas alcançando a velocidade de 1 mm por hora em direção ao sistema nervoso central. A vítima permanece consciente até a fase de excitação, quando contrações na musculatura da garganta dificultam a deglutição, a hidrofobia é caracterizada por espasmos violentos na presença de água, essa reação não é observada no cão. Nesta fase pode advir hostilidade, agressão, alucinação e ansiedade extrema resultante de estímulos aleatórios visuais e acústicos, culminando com a paralisia, asfixia, coma e morte. O homem e os animais domésticos são hospedeiros acidentais, o grande reservatório natural da raiva são os animais silvestres. Cães e gatos devem ser vacinados anualmente contra a raiva, em beneficio de homens e animais. Quando o assunto é raiva lembro-me do grande catedrático Dr. Renato Silva e suas imemoráveis aulas de virologia nas salas da UFRRJ.

Doenças que assustam

Desde o início do ano quase uma centena de mortes foi registrada, principalmente na região sul do país, devido à gripe A que tem como protagonista o vírus influenza H1N1. Normalmente não é muito patogênico, causando sintomas leves em suas vítimas, mas é bom lembrar que variantes atipicamente severas podem ocorrer em suas mutações, como exemplo a da espanhola que assolou o mundo matando quase 100 milhões de pessoas entre 1918 e 1919. O vírus da gripe tem vários subtipos e atinge os equinos, suínos, aves, focas e o homem. O H1N1 é resultado de fragmentos genéticos desses hospedeiros e é o mais novo vírus originado de animais a afetar o homem. A Febre maculosa veiculada principalmente por carrapatos não é tão letal, a demora no diagnóstico pela sua similaridade inicial com outras enfermidades é que a torna perigosa. A Hantavirose possui alta letalidade, é transmitida por ratos e cresce principalmente na região sul do país. O hantavírus provoca hemorragias e alterações cárdio pulmonares que podem ser fatais. A Leishimaniose inicialmente silvestre é hoje um grande problema de saúde no mundo, tem o cão como reservatório nas cidades e encontra-se em expansão; das doenças parasitárias só perde para a Malária. No início do século foram registrados trinta e um mil casos, é uma zoonose em franca urbanização. A Dengue que apresenta uma forma hemorrágica mortal já faz parte de nosso cotidiano, é transmitida pelo Aedes aegypti, que também veicula a temível febre amarela na Amazônia com casos isolados em alguns estados. O Mal de Chagas inicialmente restrito aos mamíferos silvestres como gambá, tatu e roedores, infectam hoje quase cinco milhões de pessoas no país. Na década de 80 dezenove estados com quase dois mil municípios foram considerados zonas endêmicas dessa zoonose. A crescente urbanização chagásica resulta da migração rural, forçada pelo desequilíbrio social e econômico. O Brasil é o maior celeiro de Arbovirus (vírus transmitidos por artrópodes, como os mosquitos) no mundo, onde cada espécie vegetal ou animal alberga pelo menos um tipo. Das treze dezenas catalogadas até o momento, um pouco mais de três infectam seres humanos. São responsáveis por doenças febris como Dengue clássico, Mucambo, Xingu e as febres hemorrágicas, Dengue 2, Hantavirose e Amarela, além da encefalite Tucunduba. Barragens, monoculturas, garimpos, hidrelétricas e a ocupação desordenada e predatória do solo, das matas e florestas afetam de maneira constante o ciclo natural dos micros agentes patogênicos, retrazendo doenças perigosas para a atualidade.