sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Guarda responsável

Parece mais perfeito o termo guarda; posse dá ideia de objeto, coisa que tem dono, tem um possuidor. No Direito, o que possui a guarda, tem responsabilidades e obrigações. O animal tem sido o mais marginalizado de todos os seres, como aconteceu no passado com os deficientes físicos, mulheres, índios e negros. À criança que é dada o conhecimento de que lixo é na lixeira, certamente manterá sua cidade limpa quando adulto. Aquela que aprende que o animal também ama, tem fome e sente dor, o respeitará por toda vida. A posse com responsabilidade tem relação direta com o desenvolvimento da consciência coletiva, quanto mais desperta maior o respeito com nossos irmãos menores. Tentar reverter maus hábitos no adulto é latir para o gato errado, nele a maldade e a ignorância já está cristalizada; continuará abandonando, excluindo, maltratando e perpetuando nos descendentes a falta de inteligência no trato com os animais. Cães moribundos abandonados à própria sorte mostra deficiência no estado sanitário do ambiente, e mensura o grau de evolução de seus habitantes. Muitos desses animais possuem endereço, são oriundos da insensatez da guarda irresponsável. Encontram nas ruas, diversão, sexo, alimentação e problemas. Todos nós somos responsáveis pelos animais excluídos, principalmente os que abandonam, ignoram e que não atentam às causas-raízes da questão. Ações emocionais e meramente assistencialistas amenizam a dor de poucos e pode gerar um dependente ciclo vicioso de ações homeopáticas, que na prática não contribui para a solução do problema. Do governo se espera atitudes humanizadas voltadas a causa animal, controle de densidade populacional e apoio aos que fomentam programas de castração, guarda responsável e mantém vigilância na questão dos maus tratos. Em alguns países a relação com os animais atingiu tal amplitude que a coleira e a corrente vão ficando no passado. Talvez aqui, num futuro próximo, a harmonia reine entre as espécies, só basta educar a humana. (Jornal Cachoeiras 17 08 2013)

sábado, 3 de agosto de 2013

O invasor mico estrela

O Callithrix penicillata e o C. jacchus são oriundos das regiões centro oeste e nordeste respectivamente. Os saguis de tufo branco e tufo preto representam uma ameaça real aos ecossistemas fluminenses, principalmente aos seus primos “da serra escuro” e “leão dourado”, endêmicos na região e ambos no corredor da extinção. Pertencendo ao mesmo gênero dos intrusos acontece a hibridização, isto é, as espécies autóctones cruzam com as forasteiras ocorrendo perdas genéticas levando a aniquilamento dos primatas nativos. Com relação a danos ao meio ambiente, a invasão de espécies exóticas só fica atrás do desmatamento, é atualmente uma das maiores ameaças a biodiversidade. Aumentam os riscos de extinção de animais nativos pela exposição a novas doenças, predação e competição por alimento e abrigo. É bom lembrar que os primatas são potencias transmissores da febre amarela, Chagas e raiva para outros animais e homem. Onívoros, e vorazes salteadores de ninhos, esses calitriquiídeos põe na berlinda espécies ameaçadas como o “formigueiro do litoral”, um dos pássaros mais raros do mundo, só encontrado numa pequena faixa da Região dos Lagos no Rio de Janeiro. O mico estrela também se alimenta de gomas, frutas, flores, invertebrados e animais menores. Extrai carboidrato e cálcio das árvores gumíferas abrindo uma ferida no seu tronco com os dentes incisivos inferiores, afetando a integridade da espécie. Há uma relação direta da oferta de alimentos e o aumento populacional. Fornecer-lhes alimentação extra, conduz a superpopulação e seus agravos. É uma tendência humana alimentar estes primatas silvestres, o que não é bom nem para eles e nem para o meio ambiente. O ideal seria repatria-los ou, esterilizar suas populações através de meios contraceptivos, o que não é barato. Muitos dos animais vulneráveis são dispersores e polinizadores, sua diminuição afeta também a flora. Há muita polêmica com relação à intensidade do impacto do mico estrela nas matas fluminenses, por falta de recursos pouco se pesquisou. A pesquisa sobre os agravos resultante dessa invasão é fundamental para o restabelecimento do equilíbrio vital da natureza. São seus principais predadores no habitat natural, as aves rapinantes e o mustelídeo “irara”, parenta da marta. Pela saúde de nossas matas, não superalimente, não comercialize e não solte os saguis no meio ambiente. (Jornal Cachoeiras 03 08 2013)

Linha chilena, pior que cerol

Duzentos anos antes de Cristo um chinês empinou o pentágono de papel pela primeira vez; há muito tempo pipas, cafifas, pandorgas, chambetas, papagaios, arraias, quadrados e pepetas colorem os céus do Brasil num bailar confuso e perigoso. Esses artefatos voadores foram importantes nos primórdios da meteorologia, no campo das pesquisas relacionadas às descargas atmosféricas. Na guerra serviu para jogar panfletos sobre a frente inimiga. Benjamim Franklin em 1752 prendeu uma chave na linha num dia de tempestade, descobrindo o parar raio. Empinar pipa não tem idade; meninos, jovens, adultos e até mulheres erguem a chambeta em todos os lugares. Camuflado nesse ingênuo passatempo se esconde uma arma letal, quase invisível, o cerol e as linhas metálicas. Vidro moído, pó da fusão do ferro e micro fios de cobre de bobinas degolam suas vítimas impiedosamente. A linha chilena, disponível na internet, contém óxido de alumínio, metal de alta dureza e muito usado em ferramentas de corte. A chilena, que corta até antena de carro, rasga quatro vezes mais que a preparada com pó de vidro, causando cortes profundos em suas vítimas. O metal é um excelente condutor de eletricidade, às vezes o feitiço volta contra o feiticeiro, pipeiros são eletrocutados por descarga de alta tensão, quando tocam com suas linhas molhadas ou metalizadas os fios da rede elétrica. Bulbos moídos de lâmpadas fluorescentes misturados à cola de madeira fazem do cerol de vidro o cortante mais popular. As cafifas podem ser turbinadas com giletes presas à rabiola, tornado-a uma máquina de guerra. Motoqueiros são as principais vítimas da degola, oito em cada dez acidentes acontecem na região do pescoço num corte horripilante e geralmente fatal; o sangue jorra aos borbotões dos vasos sanguíneos de grosso calibre decepados, matando em minutos. Há relatos de condutores que na tentativa de proteger a cabeça tiveram seus dedos decepados, tal a violência do corte. Crianças, pedestres, pássaros, ciclistas, skatistas e carros sem capota não são inatacáveis pela navalhada afiada do cerol. No recesso escolar os pipeiros dão linha às pandorgas coincidindo com ao aumento da circulação de veículos de duas rodas. A atenção durante as férias escolares deve ser redobrada. Existem utensílios que acodem os mais vulneráveis, o protetor de pescoço e a antena anti-cerol acoplada ao veículo. Pipa é bom demais, mas sem cerol. (Jornal Cachoeiras 27 07 2013)