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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Perigosos sevandijas

Grupos inferiores do reino animal se adaptaram ao longo dos tempos ao parasitismo, que é um dos mais interessantes processos evolutivos da biologia. Inúmeros desses seres fazem dos animais suas habitações ecológicas imediatas. Alguns se hospedam em cães e gatos causando-lhes agravos e até a morte. Dos endoparasitas que se alojam no aparelho digestivo uns buscam sangue, encravados na mucosa intestinal, como o “ancylóstoma”. Outros sorvem o nutritivo suco digestivo onde descartam suas excretas. A pele também alberga outras espécies: os ectoparasitas, que representam grande parcela dos atendimentos clínicos na dermatologia veterinária. Sarnas, moscas, mosquitos, pulgas e carrapatos afetam esses animais com desdobramento nem sempre satisfatório. Os ávidos sanguívoros carrapatos constituem uma perigosa ameaça aos animais domésticos. Roubam-lhes o sangue, lesam suas peles e introduzem em seus corpos perigosos microorganismos, provocando-lhes graves infecções e profundas anemias que deixam seu limiar de resistência à doenças, no alerta máximo. Após o banquete sanguinolento, as babesias penetram nos ovos da fêmea grávida do carrapato, infectando a geração seguinte que, via saliva, estará apta a infectar novos hospedeiros. Nem o coração fica livre da invasão, as dirofilarias transmitidas pelos mosquitos entopem a artéria pulmonar e o ventrículo direito do cão através de novelos dos asquerosos nematóides, causando-lhes graves distúrbios circulatórios Embora ocasionais alguns sevandijas que acometem os animais podem infectar o homem. Leishimaniose, febre maculosa, borreliose (Lyme), sarnas, helmintoses, ehrlichiose, babesiose e outra “oses” podem ser evitadas com vermífugos, parasiticidas, repelentes e utilização de domissaniantes para que o ambiente não seja fonte de reinfecção. Jornal Cachoeiras 26 11 2011

sábado, 19 de novembro de 2011

O rio que chora

Jornal Cachoeiras 19 11 2011. No paraíso hídrico da Mata Atlântica, nascentes brotam do âmago verde de suas montanhas, formando o Macacu, que serpenteia por seus vales e planícies, até unir-se aos afluentes Ganguri, Boa Vista e Guapiaçu e repousar sereno, no leito pútrido da Baia de Guanabara. Outrora nas pedras e areias quentes dos balneários Poço Verde, Dona Ninha, Sassui e Dr Castro, damas e cavalheiros daquela “belle époque” se bronzeavam após um refrescante mergulho nas suas águas transparentes. E ricas alegorias de papel crepom dos Cavalheiros do Luar, Caçadores e dos destemidos Piratas tingiam de azul, verde e vermelho o seu incólume espelho cristalino, no inolvidável “banho a fantasia”. Hoje ignorado e tingido de cinza, chora um triste lamento úmido que ecoa das entranhas escorregadias de seu lodoso leito. Pobre rio, meio sem jeito ainda sorri para os algozes, que fazem do seu corpo um érebo de esgoto, lixo e de putrefatos dejetos. Esse bem precioso a cada dia desfalece nas sinuosidades das nossas insanas atitudes e desamparado, ainda resiste sem perder a esperança de que num futuro, o despertar da consciência dos seus habitantes, o fará estar novamente junto às piabas, mandis, piaus e tabicus. Nascentes, corredeiras, rios e cascatas enriquecem e embelezam essas terras, suscitam a vida e carreiam nutrientes através do seu fértil solo. Sanear o ambiente, ter racionalidade com a destinação do lixo, cuidado com os impactantes agrícolas, promover o tratamento do esgoto, preservar nossos mananciais hídricos, utilizar a água com inteligência e educar as próximas gerações de cachoeirenses são medidas imprescindíveis para que o Macacu volte a sorrir no coração do paraíso das águas cristalinas.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O borrachudo maruim pólvora

Jornal Cachoeiras 12 11 2011 A fêmea do Culicóides furens procura nosso sangue para concluir seu ciclo ovariano e maturar seus ovos, o macho e as larvas se alimentam de açúcares naturais encontrados nos vegetais. O mosquito pólvora também chamado maruim, mosca pequena em tupi guarani, ataca principalmente no crepúsculo. A dor da picada e o forte prurido local resultam da presença de substâncias alergênicas encontradas em sua saliva, levando ao “estrófulo”, que é a hipersensibilidade à picada de insetos, e a lesões na pele decorrentes das soluções de continuidade provocadas pelos microtraumas resultantes da intensa coceira. Pelo pequeno tamanho passa por despercebido e em seu vôo não se distancia muito do seu berçário, é mais ativo nos climas quentes e úmidos. Além do incômodo doloroso pode transmitir algumas enfermidades através da picada. Em algumas regiões do Norte é responsável pela “febre de Oropouche” e outras encefalites viróticas no homem. Em locais endêmicos veicula o verme nematóide causador da elenfatíase. É também de sua responsabilidade a transmissão do agente causal da língua azul nos animais biungulados. Prolifera na matéria orgânica em putrefação das matas, riachos e brejos, onde suas larvas se desenvolvem. Um dos principais nichos para a sua reprodução são o pseudocaule, folha, engaço e coração da bananeira em decomposição e sua densidade é maior nas proximidades dos bananais. Colocar telas finas nas portas e janelas, vestir calças e camisas de manga comprida e utilizar repelentes são maneiras de se proteger. È importante para o seu controle um manejo racional do cultivo da banana, utilizando cortes que evite o seu apodrecimento. O borrachudo também se alimenta da casca do arroz e outros restos de plantações em decomposição. Seus predadores naturais provavelmente são os anfíbios e as aves.

domingo, 6 de novembro de 2011

A febre do papagaio

Jornal Cachoeiras 05 11 11 É uma denominação antiga da cosmopolita clamidiose, enfermidade bacteriana gran negativa que acomete aves e mamíferos terrestres. Inicialmente pensava-se que tinha relação com um vírus e afetava somente os papagaios, daí o nome psitacose. Seu agente etiológico Chlamydophyla psittaci é encontrado em todo mundo. Os psitacídeos - araras, periquitos, papagaios, calopsitas, cacatuas são seus principais reservatórios naturais e foram as primeiras aves implicadas na transmissão direta ao homem. Em outras aves é denominada ornitose, que descreve com mais exatidão esta infecção registrada em mais de uma centena de espécies. Pombos, pavões, perús, gansos e faisões também podem estar envolvidos. É uma doença fortuita e são mais vulneráveis os que lidam diretamente com esses animais em aviários, granjas, abatedouros, indústria de derivados e locais com muitos pássaros. A letalidade tem relação com a virulência do germe e a imunidade do enfermo. Embora raro, a contagio entre humanos pode acontecer. Adquirimos a bactéria através de descargas nasais, saliva, perdigotos, poeira em suspensão das penas, descamação da pele e dejetos de doentes. Os portadores assintomáticos sob stress disseminam a Chlamydophyla no ambiente. A bicada do papagaio e o hábito de dar alimento com a boca são também formas de transmissão. As aves que se recuperam continuam eliminando o microorganismo por suas secreções e excreções de forma contínua ou intermitente por um longo período. O antibiótico utilizado inibe, mas não inativa a bactéria. Há quem preconize a necessidade de tratamento quimioterápico profilático periódico, com intuito de manter a infecção controlada. O melhor é evitar que as aves fiquem com a imunidade baixa com conseqüente queda da resistência. Alimentá-las bem, manter sempre a higiene das gaiolas e locais de criação e evitar grande concentração de animais destinados a engorda são umas das medidas preventivas.