sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Flechas e canhões no embalo dos Caçadores

O safári teve início quando, do Bloco do Boi, surgiu os Caçadores. Algum tempo depois Chico Pinto praticamente doara o terreno onde foi edificada a sede, ele sonhava com os Caçadores disputando com Pitaras e Cavalheiros a hegemonia daqueles carnavais. O povo ergueu-o em tempo recorde com campanhas e mutirões, como do cimento, do alicerce, da feijoada e do angu à baiana, ajudando Waldemiro Goulart e sua equipe, que de tijolo em tijolo realizava aquele sonho. O bloco cresceu tanto que não suportou o peso do seu estandarte, sucumbiu com o tempo, como aconteceu com os coirmãos. Das vezes que botava o bloco na rua, a cidade viajava dentre as matas, travestida de silvícolas, caçadores e animais selvagens para encantamento de moradores e turistas. O Campo do Prado era só contentamento, o arrastão ia até o final da Av. Roberto Silveira e voltava empolgado em direção ao Centro, carregando seu pavilhão na cadência dos seus músicos. Na Av. Floriano Peixoto o povo já saçaricava com lata d’água na cabeça e cantava daqui não saio daqui ninguém me tira, pro general da banda que passava. A cordialidade e a simplicidade eram a marca dos “Caçadores”, narrada na marchinha de Nelson Fonseca em homenagem ao azul e branco e ao vermelho e preto: Confetes rolando no chão, serpentinas subindo com o esplendor, aceitem Cavalheiros e Piratas a saudação de um Caçador... As cores das fantasias, com base verde e amarela, brincavam de acordo com o enredo e “Caroço” musicava com maestria os arranjos que dançaricava o bloco ladeira abaixo. Flechas, arcos, tacapes, facas e espingardas, tomavam conta da cidade e bonitas indumentárias mostravam de forma harmônica a natureza, seus encantos e sua magia. O clima esquentava quando no fastígio da empolgação os caçadores apontavam o canhão, e num certeiro tiro, envolvia de coloridos confetes, concorrentes e multidão. Enquanto isso entre índios e caçadores, Euzébio Cunha, vestindo um dantesco gorila, botava pequenos foliões pra correr. O primeiro carnaval do clube foi na Fundação Anchieta, depois no Sindicato da Leopoldina e os outros na sede própria, palco de memoráveis bailes e saudosas apresentações de famosos do rádio. A belíssima Selma Cupti, eleita a “Rainha das girls” no Teatro de Revistas do Carlos Gomes na Praça Tiradentes, foi reverenciada pelos Caçadores numa noite apoteótica, em uma das pouquíssimas homenagens que sua cidade lhe prestou. Clóvis Bornay e Wilza Carla também subiram as escadas daquele salão, exibindo luxuosas fantasias no tempo do presidente Armando Veloso. Local onde “Cinzas de amor”, interpretada por Nelson Gonçalves, já vaticinava a proximidade do fim daqueles bons carnavais. Suas matinês eram concorridíssimas. Embebedados com pipoca e guaraná, curumins, colombinas, palhaços, pierrôs e piratas mirins, soltavam sua singeleza no salão, embelezando as inocentes tardes de carnaval. A sede própria poliesportiva com piscina semiolímpica, ficou só na imaginação. Figuras de destaque como as portas estandarte Nira e Selmi e o baliza Gaspar, encantavam a platéia na evolução do bloco, dando um brilho particular aquela festa pagã que acabava em penitencia, na dor da quarta - feira de cinzas. As fantasias eram confeccionadas por Almerina, Neuza e outras imbuídas por um amor incondicional ao Clube dos Caçadores e com precisão ornavam coloridos veludos e cetins com lantejoulas, miçangas e paetês. Fernando Veiga, Deco, Darino, Zeca Botina, Nelson Dedeia, Hugo Garcia, Gatinho, Bira, Babá, Vadinho, Ermelino, Seda, Ademarina e tantos outros são singelas personagens de um tempo rico em história e tradição. Dos Caçadores quase nada restou. Perdeu sua coroa, ficou sem estandarte e acabou sua fantasia, só restaram poucas lembranças que o tempo teima em levar. Na próxima edição do Jornal Cachoeiras a Lua será testemunha daquelas apaixonadas noites dos Cavalheiros do Luar. Agradeço com o estandarte na mão a Nelson Fonseca, Nilsete, Derli e Neide. Sem eles este enredo não teria evoluído. (Jornal Cachoeiras 04 02 2012)

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