domingo, 5 de maio de 2013

O cão paga o pato e o culpado é o birigui

Endêmica no Norte e Nordeste, a negligenciada leishmaniose visceral americana ou calazar se expande por todo território nacional. Na última década vitimou quase três mil pessoas entre crianças, idosos e imunodeprimidos, superando em óbitos a dengue em nove estados brasileiros. O cão é o principal reservatório da doença na América do Sul e Mediterrâneo. É transmitida pelo flebotomíneo Lutzomyia - mosquito palha, asa branca ou birigui. Nasce nos detritos orgânicos do solo úmido e buscam o sangue dos mamíferos pela manhã e ao entardecer. Os animais da rua e os de rua, isto é, os abandonados e os que não param em casa, podem ser picados centenas de vezes numa única tarde. O calazar é uma doença compulsória, de notificação obrigatória aos órgãos de saúde pública. Tanto no homem quanto no cão se obtém a cura clínica (os sintomas desaparecem) e não a parasitológica (eliminação do microrganismo), os animais tratados tem frequentes recaídas. Uma portaria interministerial proíbe a utilização dos parasiticidas humanos em cães, justificando que o procedimento reverte os estragos decorrentes da enfermidade, mas não eliminam o organismo unicelular flagelado; além do risco da resistência aos medicamentos existentes, o que em tese não se justifica, pois o desenvolvimento de resistência aos fármacos é também inerente a outras doenças infecciosas. As vacinas disponíveis, não tão baratas, possuem efeitos colaterais dolorosos, tanto para o bolso quanto para os cães miniaturas. Preconiza-se inicialmente a utilização de três doses, intercaladas a cada três semanas a partir do quarto mês de vida, só os animais soronegativos podem ser vacinados. Cães portadores da Leishmaniose são eutanasiados, após confirmação laboratorial por testes não tão seguros - existem os falsos positivos e falsos negativos. Os cães vacinados tornam-se soropositivos e os exames não distinguem os anticorpos conferidos pela vacina dos resultantes da infecção. Condenar os cães a morte, além de desumano, vai de encontro aos princípios fundamentais de respeito ao meio ambiente; na verdade o mosquito é o culpado, mas o cão é quem paga o pato. Posse responsável não é só acolher e cuidar do animal, é também respeitar o meio ambiente; animais expostos no tempo pode ser fonte de infecção permanente da leishmaniose. O correto manejo ambiental no âmbito doméstico desestabiliza os criadouros do inseto e a guarda responsável dos animais reduz a vulnerabilidade ao vetor, atitudes que tem papel relevante na prevenção da doença. Resguarde seu melhor amigo com coleiras, shampoos e sprays “deltametrinizados”, evitem passeios nos horários críticos e vacine-o contra a leishmaniose, além de manter sempre limpo seu peridomicilio e exigir das autoridades públicas um programa de combate ao Birigui, como se faz com o Aedes. (Jornal Cachoeiras 04 05 2013)

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