sábado, 3 de agosto de 2013

Linha chilena, pior que cerol

Duzentos anos antes de Cristo um chinês empinou o pentágono de papel pela primeira vez; há muito tempo pipas, cafifas, pandorgas, chambetas, papagaios, arraias, quadrados e pepetas colorem os céus do Brasil num bailar confuso e perigoso. Esses artefatos voadores foram importantes nos primórdios da meteorologia, no campo das pesquisas relacionadas às descargas atmosféricas. Na guerra serviu para jogar panfletos sobre a frente inimiga. Benjamim Franklin em 1752 prendeu uma chave na linha num dia de tempestade, descobrindo o parar raio. Empinar pipa não tem idade; meninos, jovens, adultos e até mulheres erguem a chambeta em todos os lugares. Camuflado nesse ingênuo passatempo se esconde uma arma letal, quase invisível, o cerol e as linhas metálicas. Vidro moído, pó da fusão do ferro e micro fios de cobre de bobinas degolam suas vítimas impiedosamente. A linha chilena, disponível na internet, contém óxido de alumínio, metal de alta dureza e muito usado em ferramentas de corte. A chilena, que corta até antena de carro, rasga quatro vezes mais que a preparada com pó de vidro, causando cortes profundos em suas vítimas. O metal é um excelente condutor de eletricidade, às vezes o feitiço volta contra o feiticeiro, pipeiros são eletrocutados por descarga de alta tensão, quando tocam com suas linhas molhadas ou metalizadas os fios da rede elétrica. Bulbos moídos de lâmpadas fluorescentes misturados à cola de madeira fazem do cerol de vidro o cortante mais popular. As cafifas podem ser turbinadas com giletes presas à rabiola, tornado-a uma máquina de guerra. Motoqueiros são as principais vítimas da degola, oito em cada dez acidentes acontecem na região do pescoço num corte horripilante e geralmente fatal; o sangue jorra aos borbotões dos vasos sanguíneos de grosso calibre decepados, matando em minutos. Há relatos de condutores que na tentativa de proteger a cabeça tiveram seus dedos decepados, tal a violência do corte. Crianças, pedestres, pássaros, ciclistas, skatistas e carros sem capota não são inatacáveis pela navalhada afiada do cerol. No recesso escolar os pipeiros dão linha às pandorgas coincidindo com ao aumento da circulação de veículos de duas rodas. A atenção durante as férias escolares deve ser redobrada. Existem utensílios que acodem os mais vulneráveis, o protetor de pescoço e a antena anti-cerol acoplada ao veículo. Pipa é bom demais, mas sem cerol. (Jornal Cachoeiras 27 07 2013)

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