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sábado, 27 de novembro de 2010

Au au,ui ui

Jornal Cachoeiras 27 11 2010

Nos primórdios das civilizações a dor era relacionada ao mal, à magia, às trevas e aos demônios e cuidada pelos sacerdotes, shamans e feiticeiros. Este “sinal de alerta” era considerado um inimigo que deveria ser combatido e execrado com expiações, rituais e até sacrifícios. Tudo começou com o castigo divino do pecado original, quando Eva foi sentenciada ao parto com dor e Adão a dor extenuante do trabalho.
Platão, antes de Cristo, afirmou: dói quando a proporção ou a harmonia dos elementos que compõem o ser vivo é ameaçada ou comprometida e, vivendo uma auto-consonância e em equilíbrio com a natureza, o homem dela se desvencilharia. Epícuro, três séculos antes da Era Cristã, profetizou a dor como conseqüência da busca do prazer vulgar e desmesurado.
Jesus pregou a não concepção de dor-punição ao bem aventurar os aflitos, assinalando que o sofrimento seria uma oportunidade de purificação da alma. Para Hipócrates, sedar a dor era obra divina - “Sedare Dolorem Opus Divinum Est”.
Se nos humanos a dor tem relação com “culpas” e “resgates” o que dizer nos inculpados animais que também a conhecem e dela padecem. No espiritismo a dor animal é um instinto de preservação, a insensibilidade de seus corpos físicos seria incompatível com a vida. Segundo esta corrente, a excitação psíquica oriunda da dor auxilia no despertar do princípio inteligente, já no homem sendo a consciência definida, é uma reação aos abusos do livre arbítrio, e nele, a que mais dói é a moral.
Por não verbalizar fica difícil o entendimento da dor física nos animais. Sua detecção é muito mais dependente de mudanças comportamentais do que de sinais específicos. Podem ser evidências de dor: depressão, desconforto, falta de atenção, gemido, diminuição do apetite, mutilação, imobilidade, agressividade, isolamento, tremores, taquipneia e taquicardia.
A debelação da dor nos animais, além de ser uma questão ética, tem a ver com sentimentos humanitários. Na atualidade a terapêutica dispõe de medicamentos que proporcionam bem estar aos animais violentados pela dor.

sábado, 20 de novembro de 2010

O gato em evolução

Jornal Cachoeiras 20 11 2010

Há nove milênios, utilizado no controle dos indesejáveis ratos que infestavam os campos e lugarejos daqueles tempos, teve início a domesticação dos gatos. Os animais atuais descendem de uma espécie malhada que habitava a Mesopotâmia e o esclavagismo se deu quando a humanidade engatinhava na agricultura.
A relação do gato com o homem é cada vez mais intensa, fortalecida por sua notável adaptação a espaços reduzidos, comuns nas moradias das grandes cidades e, por melhor tolerar a ausência prolongada de seus donos. Em alguns lugares do Primeiro Mundo sua densidade populacional aproxima-se, e até supera, a dos cães.
Há quem diga que o processo de domesticação desses felinos ainda não se completou, e que muitas características ocultas, num futuro próximo, virão à luz da etologia. São poucas as informações sobre sua vida comportamental; o estreitamento na relação com o homem mostrará com o tempo, peculiaridades que levarão a um melhor entendimento da sua organização e dinâmica psicossocial.
São comuns queixas relacionadas à conduta desses animais como - sair à noite, urinar em local inadequado, arranhar móveis, e predar, que dependendo da intensidade podem causar impacto na fauna local. Essa forte tendência predatória pode ser atalhada evitando o contato do filhote gatinho com suas possíveis presas.
A maioria dessas manifestações não representa desvio de conduta ou alterações comportamentais, são processos naturais da vida de relação desses bichanos.
Algumas medidas podem ser adotadas, para desviar esta conduta incômoda para locais e situações desejadas, como por exemplo, incluir um pedaço de madeira no quintal, para aliviar a pressão sobre os móveis. A castração pode resolver as brigas de caráter libidinoso, além de evitar ninhadas indesejadas.
O gato é um animal interessante, amigo, sagaz, limpo, sensível e dotado de percepções que transcendem o nosso tempo. Entendê-lo e amá-lo também é parte da nossa evolução.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A deusa da cerveja

Jornal Cachoeiras 13 10 2010

Onde hoje é o Iraque a alguns milhares de anos viveram os Sumérios, que já domesticavam animais, irrigavam, drenavam a terra e conheciam a escrita cuneiforme, a roda, a astrologia e naturalmente a cerveja.
Na mitologia suméria, Enki - “deus da água doce”, era casado com sua irmã Ninti -“rainha do lago sagrado”. Foi ele quem cochichou no ouvido de Noé de como escapar do dilúvio bíblico e junto de sua mulher Ninti, participou da criação humana dando seus sangues na concepção.
Desta incestuosidade nasceram oito crianças que sarariam os oito ferimentos que enfraquecia Enki. Uma delas, Ninkasi - “deusa da cerveja”, emergiu das águas frescas e resplandecentes para mitigar e saciar os desejos e prazeres da humanidade. É a que farta as bocas e abranda os corações permitindo a dádiva da “gelada” aos mortais.
Fruto da fermentação alcoólica de cereais maltados a cerveja, principalmente a clara, dourada e amarga “larger”, é a bebida mais apreciada no mundo. O aroma e o gosto travento vêm do lúpulo (humulus lúpulus) introduzido nos tempos medievais, sem ele a cerveja seria adocicada por causa do açúcar do cereal utilizado.
O chope chegou ao Brasil com a família real portuguesa, é a cerveja não pasteurizada e servida sob pressão. Bebê-lo era um privilégio da Corte. O colarinho de espuma que se forma são partículas da bebida misturadas com o gás carbônico, funciona como um isolante térmico, mantendo as características organolépticas e o frescor da bebida.
Segundo artigo publicado pelo British Medical o consumo consciente de cerveja diminui consideravelmente a incidência de problemas cardíacos. Na população da Baviera, maior consumidora no mundo, as doenças do coração na são relevantes.
Por aqui o Ministério da Saúde aponta o alcoolismo como a terceira causa de morte no Brasil, só ficando atrás dos males cardíacos e do câncer e é a principal causa de acidentes fatais no transito.
A bebida alcoólica é boa e má, os benefícios e os malefícios têm relação direta com o uso e o abuso, com a moderação e a compulsão.