sábado, 17 de setembro de 2011

Chanchão no corredor da morte

Jornal Cachoeiras 17 09 2011

Estas encantadoras criaturas perdem o céu quando impiedosamente são trancafiadas nos avernos tristes e desumanos das pequenas celas de ferro e madeira.
A cada amanhecer a esperança de voar se esbarra nos fios de arame das gaiolas que os aprisionam e a cada entardecer suas asas confortam seus pequeninos corpos no canto de um solitário poleiro. Ainda gorjeiam um lindo canto de lamento, saudade e tristeza como se quisessem despertar a enfrascada consciência do seu carcereiro.
É estranho ver a “imagem e semelhança do Criador” aprisionar uma das mais perfeitas e formosas obras da Criação e se deleitar com a sua triste entoada. São incapazes de distinguir a doce melodia de uma lamúria.
Além de arrancar os pássaros do seu ambiente ainda destroem seu habitat com a introdução de animais exóticos, com as lavouras transgênicas, com os agrotóxicos de última geração e com as queimadas e desmatamentos. Estes pequenos animais são responsáveis pela vida da floresta, e inúmeras espécies estão na rota da extinção. Que saudades do Tietê-de-coroa (Calyptura) que já se foi, e outras espécies como o Sabiá-pimenta (Carpornis), o Bicudo (Oryzoborus), e o Chanchão (Sporophila) que no corredor da morte esperaram a sua vez.
Acabar hoje com esta atitude humana antinatural é quase impossível. A conscientização só acontecerá nas próximas gerações e através da escola, pois para “preservar é preciso conhecer”.
O desrespeito ao meio ambiente é diretamente proporcional ao anacronismo e a decadência de uma civilização. A Lei do Firmamento é inexorável com os que agridem de qualquer forma a natureza, e implacável com os que lançam em ergástulo permanente os seres alados dos céus.

Um comentário:

  1. Lindo texto, Ronaldo! Acordo, ainda, com o canto dos pássaros, tanto em Boca do Mato como no Ganguri. Não consigo imaginar um dia sem isso e me preocupa ver as novas gerações,que aprenderam a acordar com o despertador do celular, debatendo pouco o assunto. Quando discutimos isso na escola, parece ser um assunto tão distante deles, como se nunca tivessem prestado atenção num canto de pássaros, a não ser os que os pais mantêm presos nas gaiolas.

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