sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O último apito - ll

As robustas locomotivas adaptadas aos terrenos íngremes e sinuosos levavam seus vagões, de dois em dois, até quase mil metros de altura em Teodoro, onde, novamente, contíguos seguiam viagem, puxados por uma máquina tradicional. O sistema fell de tração por cremalheira, implantado em 1873 era constituído além dos dois carris tradicionais, de mais um trilho, onde atuavam rodas horizontais dentadas, funcionando como tração auxiliar. Foi posteriormente modificado pela Leopoldina Railway para sapatas de frenagem especial. Nas estações, enquanto os freios da Baldwin de configuração 0-6-0 eram reparados, ambulantes vendiam pastéis, bolinhos de aipim, pinha (biribá) e banana-ouro aos seus ilustres passageiros. A sórdida e inconsequente política brasileira, a ganância empresarial do setor de transportes e a mão perniciosa do tio Sam, acabaram com o nosso trem. Se o ressuscitarão, só outras gerações saberão. Os que dele fizeram parte, onde estiverem, sentirão sempre emoção ao lembrarem-se do “rápido”, do “jaú”, do “expresso” e do “passeio”, deslizando na bitola métrica rumo à capital. Os ferroviários que partem, levam consigo parte da história da cidade, deixando um vazio em sua memória. Muitos sentem falta da bucólica estação de Cachoeiras de Macacu, da oficina, do armazém, do SENAI e do Liceu. Outros, sonham com a construção de um museu ferroviário e os mais românticos com uma leve e pequena locomotiva “fell”, encantando turistas numa praça da cidade. Por ironia do destino, hoje dependemos dos ônibus passantes para chegar ao Rio e a Niterói. Se o leito não fosse desativado estaríamos, quem sabe, na expectativa de um VLT (Veículos Leves sob Trilhos) que serão implantados em algumas cidades. Melhor sorte teve o ramal de Cataguases, escolhido por Antônio Erminio de Moraes para transportar bauxita da sua mina em Barão de Camargo (MG) até B. de Angra (RJ), onde hoje repousa a nossa saudosa 103. Meus agradecimentos a Antônio Peril da Silva Filho, Carlos Donegatti, Dalmo da Silva Bastos, Décio Ade, Ivo, de Boca do Mato, Zaly Alves de Azevedo e meu querido pai Taciano Rocha Filho, por, gentilmente, terem contribuído para a efetivação deste trabalho. (Dica: “A rota do indivíduo – ferrugem” – Djavan) (Jornal Cachoeiras 07 01 2012)

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