domingo, 31 de agosto de 2025
O cão da noite
O cão da noite ...
... sentinela entre luz e sombra.
Teus olhos não brilham — consomem.
Teu focinho não apenas cheira — inala segredos.
Tu nos lês como vampiros leem a carótida:
não o gesto visível, mas a canção oculta no sangue.
Conheces o hálito que confessa sem voz,
o suor que verte medos,
a pulsação que anuncia quedas.
Rondas-nos com paciência infinita:
não para devorar, mas para vigiar.
Farejas fragilidades, reconheces destinos à flor da pele.
És sentinela da carne, guardião da alma,
entre temor e reverência.
Nada tomas — apenas contemplas.
Curvas-te à nossa astenia,
como quem compartilha o peso secreto da fidelidade.
Entendes os muros, as esquinas, os silêncios,
as histórias que a esperança e o medo tecem.
Seu passo é leve, mas presente:
ponte entre o corpo que teme e o espírito que observa.
Quando o vento carrega segredos, reténs-nos em silêncio.
Quando o medo se adensa na sombra, tornas-te escudo invisível.
Há reverência em teu olhar:
cada suspiro humano é digno de cuidado.
Diante da visão invisível, somos nus e frágeis,
beijados pela noite que vigia.
Forças caminham conosco.
Sem nada exigir, sem nada tomar.
Conhecem nossa fragilidade e, ainda assim, escolhem cuidar.
Cães da noite, beijados pela escuridão,
guardiões do que não se vê.
E o silêncio — sagrado e eterno —
tudo sabe, tudo guarda.
Dr. Ronaldo Rocha
Médico veterinário e Jornalista
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