Mais lidos

sábado, 27 de agosto de 2011

Era pra ontem


Jornal Cachoeiras 27 08 2011

A biosfera perde todos os dias cerca de quatro hectares de mata habitada por vegetais e animais ameaçados. A extinção de espécies nativas é nociva, não só aos organismos, como também ao equilíbrio da cadeia alimentar acarretando grave instabilidade ao ecossistema.
A baixa umidade relativa do ar predispõe à combustão que pode ser espontânea, advinda da refração da energia solar em latas, vidros e ferramentas. Pontas de cigarros, balões, fogueiras em acampamentos e queimadas descontroladas são causas não naturais de incêndios nas matas.
O fogo aniquila toda a micro fauna e flora, representada pelos fungos, bactérias e outros microorganismos decompositores, sem os quais os ninhos, sementes, árvores e habitantes da mata não existiriam.
Fugindo das labaredas fumegantes, certos animais tentam a sorte em outros cantos e dentre eles, alguns não são desejáveis como os ratos, escorpiões, aranhas e serpentes, que se socorrem em locais não apropriados pondo em risco a integridade de homens e animais.
O impacto no ambiente resultante da queimada é cada vez maior e a real dimensão dos estragos, ainda não está bem compreendida. O fogo fora de controle destrói o solo, danifica os mananciais hídricos e conspurca o ar, afetando a saúde respiratória dos seres pulmonados.
Cientistas, ambientalistas e preservacionistas sabem que as queimadas comprometem a física, a química e a biologia do solo, o que leva a resultados matemáticos impresumíveis.
Os incêndios e sua densa emissão de gases bloqueadores de calor, como o carbônico e o metano, são a segunda maior causa do efeito estufa e do aquecimento global.
Muito utilizado nos dias de hoje na agricultura, o fogo empobrece a terra. O agricultor tenta repor os nutrientes torrados utilizando fertilizantes, que engordam a agroindústria e contaminam seus produtos.
Utilização de recursos como a disposição de brigadas contra incêndio nas áreas vulneráveis e conscientização ecológica têm de ser praticadas sem demora. A educação ambiental tem de estar hoje nas escolas dos cultivadores do solo do amanhã.
... Era pra ontem.

sábado, 13 de agosto de 2011

Febre que pinta

Jornal Cachoeiras 13 08 2011

Cruentos vorazes, os carrapatos saciam sua orexia sorvendo na maior parte de suas vidas o sangue de suas vítimas, expondo os organismos parasitados a inúmeros agentes infecciosos como o da febre maculosa, doença de Lyme, babesiose e erlishiose. Como vetores de doenças só perdem para os mosquitos.
A Febre maculosa ou pintada é um mal causado por uma pequena bactéria do gênero Rickettsia. É uma enfermidade com baixa letalidade quando notada a tempo, caso o tratamento não seja instaurado de imediato o prognóstico é sempre sombrio. O diagnóstico precoce é crucial para o sucesso do tratamento. No Brasil o principal transmissor é o carrapato estrela.
Cachoeiras de Macacu possui condições climáticas ideais para a proliferação de carrapatos, chegando a explosivas infestações em determinadas áreas. Quanto maior a densidade populacional desses artrópodes, maior a exposição e conseqüente risco de contágio.
Os cães não transmitem, mas veiculam a doença que neles é abortiva, não passando de um estado febril e indisposição passageira. A severidade do quadro clínico em humanos é dependente das alterações que esta minúscula bactéria provoca na parede interna dos vasos sangüíneos, localizados em todos os órgãos do nosso corpo, daí não ser incomum a morte por “falência múltipla dos órgãos”. Quase a metade dos casos registrados desde 1985 tiveram desfecho fatal, a maioria na região Sudeste.
A confusão diagnóstica com outras enfermidades infecciosas como dengue, leptospiroses, tifo e febre amarela; a falta de consistência na anamnese (o paciente não relata o contato com o vetor, por não conseguir vê-lo) e por ser uma enfermidade qualitativa e não quantitativa são barreiras para um diagnóstico preciso.
Na verdade o homem é um hospedeiro acidental da bactéria, a Rickettsia circula entre animais vertebrados e invertebrados, é o seu meio natural. A fase adulta do carrapato tem pouca importância na transmissibilidade. Além de não apreciar o sangue humano são grandes o bastante para serem identificadas a tempo. O contágio acontece através das fases jovens, representadas pelos vermelhinhos e micuins, seus pequenos tamanhos fazem com que passem despercebidos. Para que o agente da “febre que pinta”, passe para o organismo humano é necessário que o carrapato esteja grudado no corpo da vítima por algum tempo.
Evite locais infestados, use roupas claras e de mangas compridas com a bainha da calça dentro das botas. Caminhe sempre no meio das trilhas evitando suas margens, pois os carrapatos procuram o ápice dos arbustos e gramíneas, na expectativa de uma carona em um passante humano ou animal e sempre vistorie o corpo a cada duas horas quando em locais suspeitos. O carrapato precisa de pelo menos quatro horas para transmitir o microorganismo.
Ao retirá-lo faça uma leve rotação. Não esmague ou queime o carrapato com cabeça de fósforo, pois o stress faz com que liberem grande quantidade de saliva e conseqüentemente de bactérias no local da picada.
Mantenha os animais domésticos livres dos carrapatos, os cães são vítimas freqüentes de enfermidades perigosas transmitidas por estes vetores como a Erlishiose e a Babesiose.
Num quadro febril com história de picada precedente, é bom avisar o médico.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Seres indefesos

Jornal Cachoeiras 06 08 2011

Os pássaros são responsáveis pela arborização e muitas espécies estão à beira da extinção, o tietê-coroa foi banido da vida da floresta e o sabiá-pimenta, o bicudo e o chanchão voam na corda bamba. Esses indefesos seres em suas reclusões, sem lágrimas choram um lindo canto de lamúria, saudade e tristeza, como se almejassem despertar a enfrascada consciência de seu carcereiro, ainda inábil pra distinguir a doce melodia que singram os ares, do infeliz lamento vocalizado num canto frio de um poleiro.
Ao retirá-los da natureza balançamos com o equilíbrio vital e desestruturamos todo um bioma. Sementes de inúmeras espécies vegetais são nas matas dispersas por estes pequenos voadores. Em longo prazo, o cativeiro dos pássaros compromete toda a estrutura do ecossistema. A diminuição das populações desses dispersores causa agravos, até nas matas preservadas.
É uma insensatez aprisionar um passarinho. Existem melhores maneiras de mantê-los próximos e ouvir seus cantos, sem ter que submetê-los à melancólica clausura perene. É estranho ver a imagem e semelhança do Criador aprisionar uma das mais perfeitas e formosas obras da Criação.
Disse Einstein que “existem apenas duas coisas infinitas – o universo e a estupidez humana. E não tenho certeza do universo”.
E também Mahatma Gandhi – “O Planeta Terra tem como dar ao homem tudo que ele precisa. Mas não o que ele cobiça”.
A lei do Firmamento é implacável com os que agridem a natureza, e inflexível com os que trancam em cativeiro os seres que habitam os céus.