Ocupamos múltiplos níveis na cadeia alimentar e, dentre os predadores, somos os mais temidos. Que diga o boi, o carneiro, o porco e até o sofrido jegue, que, após uma vida de labuta, tem sua carne pendurada para secar.
Sofre também o ganso, entupido de comida até o pescoço, fazendo seu fígado hipertrofiar até doze vezes o tamanho original, produzindo o "foie gras", o patê esteatótico do paladar francês.
Cobaias são sacrificadas em prol da indústria farmacêutica e cosmética.
Coelhos, ratos, gatos, porquinhos-da-índia e até cães são mortos em prol da ciência, dos laboratórios e da vaidade humana.
No Pantanal, a caça imoral coloca a onça-pintada na beira do precipício, enquanto o tráfico de animais silvestres os arranca brutalmente de seus habitats.
A violência contra os animais não se limita à gastronomia e aos laboratórios. Nos lares, o desrespeito é voltado aos cães. Segundo a "Humane Society International", em famílias marcadas pela violência doméstica, os animais são frequentemente maltratados, violentados ou mortos.
Na agroindústria, o sofrimento é sistemático: seres sencientes são torturados até o abate, suas lágrimas são transformadas em lucro.
Os animais, quando causam dor, fazem-no pela sobrevivência, seguindo as leis da natureza. Já o ser humano, dotado de consciência e capacidade de escolha, pratica a crueldade movido por ganância, futilidade e prazer.
No entanto, à medida que a sociedade evolui, cresce também a consciência sobre o impacto dessas práticas e a necessidade de mudança.
Como afirmou Schopenhauer: "A assunção de que os animais não possuem direitos e a ilusão de que nosso tratamento para com eles não possui significância moral são um ultrajante exemplo de inumanidade."
Se a compaixão é a única garantia de moralidade, então talvez precisemos, sem demora, revisitar nossos valores.
Ronaldo Rocha - Medicina Veterinária UFRRJ / Jornalista ABJ