Criaturas aterradoras vagavam noite adentro em Cachoeiras de Macacu desde tempos imemoriais.
Em cada canto esquecido, histórias assombradas emergem da escuridão. Falam de disformes híbridos, cuspidos de alguma fenda aberta na epiderme da realidade, arrastando-se entre o palpável e o imaginário.
O Baku, no Japão, é um glutão esfomeado por sonhos humanos. É um quimérico medonho, formado pelos fragmentos de grotescas criaturas. Vagueia invisível sobre a cama dos que dormem, devorando com avidez seus sonhos perturbadores.
Se em terras distantes o Baku devora os pesadelos, em Cachoeiras, outras criaturas se alimentam do silêncio da noite e as histórias rastejam como heranças malevolentes. Há quem ainda jure que, nas gélidas madrugadas de inverno — que acordam os cachorros antes do galo cantar —, um cortejo de penitentes embalado por deprimentes cânticos se arrastava pelo leito onde passou o trem, até a aprazível Boca do Mato.
O lobisomem cachoeirense não era irreal, era autêntico: tinha carne, tinha cheiro, tinha tez pálida e também parentesco. Seu nome era sussurrado, quase inaudível, entre os dentes cerrados da população.
Na Boa Vista, uma mula descabeçada vagava à procura de sua cabeça decapitada, sua jugular jorrava lamento em lugar de sangue.
O desatento cavaleiro, que ousasse passar tarde da noite pelo escuro bambuzal do Boqueirão, sentia o baque repentino de um pequeno menino em sua garupa. O moleque era lodoso e frio como pedra de rio. Nem reza braba conseguia abrandar o arrepio e o silêncio interrompido.
Essas histórias se revelavam nas rodas de conversas, entre mordidas na mariola "Banassuit" e tragos ardentes da cana de banana "Banadrink".
Realidade e lenda são faces de uma mesma sombra. Em silêncio, compartilham o que carregam.
Suas histórias não precisam de testemunhas, bastam-se com o medo que semeiam.
Ronaldo Rocha - Médico Veterinário UFRRJ / Jornalista ABJ
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