quarta-feira, 4 de junho de 2025

O olhar que rasga a máscara


Há quem diga que os animais veem o que nossos olhos já esqueceram.
Que escutam o que silenciamos, percebem o que ainda não sabemos nomear.
Sentem o que não dizemos. Leem o que tentamos esconder.
Em muitas tradições, acredita-se que alguns animais conseguem perceber nossas emoções e a energia que carregamos. Possuem uma sensibilidade aguçada, que vai além do palpável, da palavra. Percebem dimensões da existência que escapam à racionalidade humana.
Cães e gatos, por exemplo, captam alegria, bondade, tristeza — e até a maldade disfarçada de gentileza. Dizem que percebem o que escondemos até de nós mesmos. Sentem antes que saibamos. Leem entre os silêncios.
Nobres de alma e profundos no olhar, os cavalos são usados em terapias por sua capacidade de espelhar o interior humano. Não julgam, apenas refletem.
Também os golfinhos são associados à cura e à conexão emocional profunda, atravessando com leveza os oceanos turbulentos das emoções humanas.
Corujas, lobos e águias, guardiões de sabedorias ancestrais, são vistos como seres que enxergam além do tempo e da matéria.
Os animais respondem à nossa luminescência interior — à energia sutil que emitimos — porque percebem quem realmente somos. Seus olhos rasgam as máscaras que vestimos no cotidiano. Sentem nossa luz, sua ausência e até o esforço que fazemos para mantê-la acesa.
Aproximam-se quando estamos em paz e se afastam quando opacos de nós mesmos, mergulhados em nossos conflitos internos.
São atraídos pela presença serena, pela autenticidade, pela verdade. E se retraem diante da dissonância entre o que mostramos e o que somos. Para eles, a verdade não se disfarça.
Os cães percebem quando alguém se aproxima com intenções que não ressoam com a nossa energia. E quando somos atacados por forças do malévolo — densas, escuras, invisíveis.
Alertam, mesmo sem palavras. Protegem, mesmo sem promessas.
A borboleta carrega um dos sinais mais pujantes.
Ela emerge da ruptura. De uma criatura rastejante, nasce algo leve, livre e belo.
Aproxima-se de nós quando estamos em transformação. Sua presença é um anúncio sutil de renascimento.
É o arquétipo vivo da metamorfose.
Quando as asas de uma Lepidoptera batem ao nosso redor, talvez seja para lembrar que algo em nós está pronto para voar. 
Será isso intuição, ou algo mais antigo que a linguagem?
Ou será que, no fundo, eles apenas nos enxergam como realmente somos?
Ronaldo Rocha 
Médico Veterinário/
Jornalista

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