sábado, 7 de maio de 2011

Pânico ancestral

(Jornal Cachoeiras 07 05 2011)

O pavor mórbido de baratas tem lá sua razão, esses milenares seres se escondem em locais impregnados de microorganismos perigosos que, de carona, chegam à nossa cozinha. É bom não dormir sem escovar os dentes, a francesinha “Blatella germânica” gosta de roer restos de alimentos grudados em nossas bocas durante o sono.
São capazes de viver sem cabeça e tirar de letra uma “hecatombe nuclear” sem grandes dificuldades. Após o genocídio de Nagasaki e Hiroshima as baratas foram os únicos seres a andar sobre o que restou.
A gosma branca que aparece ao ser esmagada é gordura de reserva que as mantém vivas no período de escassez de alimentos. As asas já não lhes são tão úteis, a não ser no período reprodutivo e a agilidade e rapidez com se deslocam no solo é impressionante.
Agressivas, asquerosas, nojentas e repugnantes, as baratas possuem uma atração fatal pelo ser humano, não é a toa que quase a totalidade das mulheres e significativa parte dos homens sofrem de blatelafobia e seus sintomas autossômicos – suor frio, falta de ar, mãos geladas, palpitação e histeria. As voadoras são as mais temidas, elas sempre estão em algum lugar quando menos se espera, deixando-nos apavorados como “baratas tontas”.
Dizem que os artrópodes do longínquo passado eram abissais, como também as baratas. Talvez esse “pavor inexplicável” tenha alguma relação com a lembrança distante do pânico ancestral, quando éramos acossados e devorados por eles. Alguns defendem a teoria de que projetamos na barata o pavor inconsciente da própria sexualidade e suas fantasias e é por isso, que a genitália feminina é também chamada de “baratinha”.
A catsaridafobia não tem muita explicação lógica. As baratas atuais não saem por aí mordendo como umas loucas, porquanto não é justificável o alarido frenético frente a uma insignificante “blatelinha”. Há quem diga que elas possuem um bizarro poder sobre o homem.
Para cada um de nós existem quinhentas delas sobre a terra. Vivem por um bom tempo e deixam quase três centenas de novos descendentes cada uma.
Além de praga, a barata doméstica é completamente inútil, não serve pra coisa nenhuma. São seres da noite, só transitam durante o dia se a concorrência é grande.
Grande maioria das espécies é silvestre e deve ser preservada, elas devoram os cadáveres animais e vegetais decompondo o lixo orgânico no solo e são importante na cadeia alimentar.
Uns dos lugares mais horrendos do mundo são as cavernas habitadas por morcegos, lotadas de baratas ávidas pelos dejetos frescos que caem do teto.

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