segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

As criaturas dos céus

Coleiros, papa-capins, sabiás e tantos outros passeriformes capturados em nossos vales, planícies e montanhas, perdem os céus quando impiedosamente são engaiolados nos avernos tristes, claustrofóbicos e desumanos das pequenas celas de arame e madeira.
A cada alvorada a esperança de voar se desfaz nas grades dos cubículos que os aprisionam e a cada crepúsculo suas asas encolhidas confortam seus pequeninos corpos no frio canto dos poleiros de suas gaiolas. Ainda gorjeiam um lindo canto de lamento, saudade e tristeza como se quisessem despertar a enfrascada consciência do seu algoz.
É incompreensível ver a “imagem e semelhança do Criador” aprisionar uma das mais perfeitas e formosas obras da Criação. Ainda usam a triste entoada da para o seu nefasto deleite e desfilam com seus indefesos prisioneiros pelas ruas da cidade. São incapazes de distinguir a doce melodia de um canto, da lamúria de um triste lamento.
O homem sempre foi o mais temível e cruel predador, o mais inconseqüente e abominável devastador; é só olhar para a biodiversidade ferida, para a Mata Atlântica dizimada, para a floresta amazônica que agoniza e para a própria decadência da humanidade.
Além de arrancar essas pequenas criaturas do seu meio, onde são partes importantes na cadeia alimentar e no equilíbrio vital, ainda destroem seu habitat através das queimadas e dos desmatamentos. Os pássaros são responsáveis pela vida da floresta, e inúmeras espécies foram extintas, como o tietê-de-coroa, e outras estão na rota da extinção, como o sabiá-pimenta, o bicudo, e o chanchão.
Já que é quase impossível coibir estes instintos antinaturais, os órgãos ligados à preservação e a defesa do meio ambiente deveriam implementar nas escolas, atividades de conscientização voltadas à preservação da fauna e da flora. Talvez ainda haja tempo de despertar a consciência ecológica nas futuras gerações.
O desrespeito ao meio ambiente é diretamente proporcional ao anacronismo e a decadência de uma civilização. A Lei do Firmamento é implacável com os que agridem de qualquer forma a natureza, e inexorável com os que lançam em ergástulo permanente os seres que habitam os céus.

Jornal A Voz da Cidade – 08/03/2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário