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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O último latido

Totó era mais um dos tantos que a cada ano engordam a triste estatística dos animais excluídos, dependentes da compaixão de alguns, e dos restos estragados do lixo de outros. A densidade de animais que perambula pelas ruelas e becos das cidades é tanto maior quanto mais enfrascada a consciência de seus responsáveis. Todos nós, como eles, resultamos da ação Divina. Foi-nos dado a inteligência e consequentemente a responsabilidade com a vida que nos cerca. Cães maltratados perambulando pelos caminhos humanos põe em xeque a saúde pública, existem as zoonoses - enfermidades comuns a homem e animais, como a temida raiva, a leptospirose e a leishmaniose em franca expansão. Mostra um comportamento paradoxal orar nos templos de Deus, enquanto maltratamos a sua criação. Totó era um cãozinho SRD alegre e amistoso, mesmo no período crítico da exclusão quando o sereno da noite congelava seu pequeno corpo, carcomido pela sarna e combalido pela desnutrição. Pior do que as mazelas orgânicas que carregava, era a decepção que tivera em quem mais confiara e sempre emprestou sua fidelidade. Certa tarde, acossado e escorraçado pela ignorância contemporânea, foi atropelado por um motorista alcoolizado; sem um “SUS-CÃO”, deu seu último latido naquela tarde de verão. O Natal é representado por um estábulo com nossos irmãos menores, ali presentes quando o Menino Deus se mostrou na Terra. Em nossas preces natalinas, não esqueçamos os animais domesticados, silvestres e exóticos. Adote um animal neste Natal. (Jornal Cachoeiras 15 12 2012)

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Animais em crise de identidade

Muitos animais leem nossos pensamentos, ou melhor, sentem o contexto emocional neles embutido. Os animais trazem consigo desde o nascimento a instintiva habilidade desse entendimento. Há indícios de telepatia entre humanos e cães, que sabem quando seus donos estão pra chegar em casa. Nas regiões sujeitas a catástrofes naturais animais antecipam o evento manifestando inquietação. Esse comportamento antecipatório não é tão incomum, o que ocorre é que não lhe damos muita importância. Na luta pela existência ou perpetuação da espécie, a natureza desenvolveu nos animais órgãos e sentidos que a etologia começa a desvendar. Em nós este sentimento é velado, na dependência de técnicas esotéricas para o seu despertar. Animais que vivem no meio humano podem relacionar certas palavras a acontecimentos, principalmente no que diz respeito ao seu bem estar. Isto acontece não pela memorização de palavras ou sons, mas por simples associação. Eles reconhecem de imediato as manifestações psíquicas humanas, que são parecidas com as suas, como dor, depressão, compaixão, pesar entre outras. O crescimento da neurose canina mantém relação com o desenvolvimento da sociedade humana, cada vez mais desajustada e neurótica. Grande parte das manifestações psicóticas dos animais domésticos é reflexo do estado mental das famílias humanas a eles densamente ligados. Desde cedo o levamos a acreditar ser um humano, e tem casos em que a humanização exacerbada gera graves conflitos psicológicos nestes animais. Geralmente encontra na família uma estrutura mais sutil do que da matilha onde a hierarquia é prontamente estabelecida e dificilmente contestada. Alguns cães acreditam ser gente e ao se verem no espelho padecem crises de identidade. Talvez nenhum outro animal suporte tanto a tão variada pressão como os cães, sem enlouquecer. Com os instintos obliterados vão se amoldando a vivência humana ao longo dos tempos, num processo antinatural onde só lhes resta as funções de sobrevivência. Pássaros que emitem sons especiais ante os cadáveres de sua espécie, abelhas que enterram seus semelhantes, formigas que praticam marcha fúnebre e bois que pressentem a morte no corredor do matadouro, põem em discursão o mundo transcendente dos animais.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Luzes na escuridão

(Jornal Cachoeiras 01 09 2012) Luzes enigmáticas intrigaram a cidade num passado não muito remoto, eram vistas em vários cantos e muitos são os relatos a seu respeito, uns devaneadores e outros nem tanto. O curioso é que o fato é mencionado por cachoeirenses idôneos e isentos de qualquer suspeita. Ouvi o relato de um morador do Tuim, que em certa ocasião, viu diversos pontos luminosos de vários tamanhos e cores sincronicamente se confluindo e se afastando na mata. Em todos os relatos há um ponto em comum, a maneira como se deslocam e a variação de sua intensidade luminosa. Boa Vista, Boca do Mato, Morro do Kleber e Parque Santa Luzia também foi palco desse fenômeno. Presenciei por duas ocasiões essas estranhas luzes no morro do Ganguri de Cima. Por algum tempo as bolas luminosas eram visíveis, até desaparecerem nas entranhas da escuridão. Naquele momento pensei em se tratar de caçadores, ou alguém indo pra algum lugar carregando tochas incandescentes, mas esta hipótese não batia com a velocidade de deslocamento; seria impossível alguém se mover no meio da mata com tamanha rapidez. Gases liberados por bactérias, plasmas, miragens, minerais fosforescentes, manifestações ufológicas e acontecimentos sobrenaturais são as inúmeras cogitações na tentativa de explicar tais luzes. Alguns dizem que é a “mãe do ouro” ou “boitatá” que vitimou Prestes em São Roque/SP em 1948, quando adentrou sua casa pela janela provocando-lhe queimaduras radioativas indolores, o homem consciente viu sua carne derreter até a morte algumas horas depois. Fenômenos parecidos têm sido relatados em vários lugares em todo mundo. Um exemplo são as “Luzes de Brown Montains”, na Carolina do Sul que tem intrigado cientistas. Aristóteles, em Metaurus descreve um fenômeno parecido com o “Fogo de Santelmo”, bastante relatado na literatura portuguesa, que deixou apreensivo muitos navegantes. Também são retratados no romance de Andy Anderson, “kill one, kill two” e base para o seriado de televisão Arquivo X. Seja lá o que for, essas luzes brilham no desconhecido e pelo jeito permanecerão na escuridão por muito tempo.

O cachorro louco

Dizem que agosto é sem gosto e carregado de acontecimentos trágicos, alguns ficaram na história, como o suicídio de Vargas, renúncia de Jânio, morte trágica de Kubitscheck, bomba atômica em Hiroshima, massacre de São Bartolomeu, ascensão de Hitler e construção do muro de Berlin. Agosto também é conhecido como o mês do cachorro louco, por isso que a campanha de vacinação antirrábica é realizada logo depois. Deixando as superstições e sortilégios de lado, a verdade é que a intensidade luminosa nessa época do ano mexe com a libido dos animais, que com patadas e mordidas brigam pela supremacia sexual; tudo que o vírus da raiva precisa pra sua propagação. Seu principal reservatório na área urbana é o cão que dissemina o vírus através da saliva, mas outros mamíferos também podem estar envolvidos. A única forma de transmissão conhecida entre humanos é através do transplante de córnea. Aristóteles, aluno de Platão, já alertava sobre o perigo da mordida de cães raivosos, quando acreditavam que sede intensa, insatisfação sexual, tara exacerbada e ingestão de alimentos quentes ocasionavam a doença. Através da arranhadura, mordida ou lambedura de mucosas, as partículas virais presentes na saliva do animal raivoso chegam aos axônios das terminações nervosas alcançando a velocidade de 1 mm por hora em direção ao sistema nervoso central. A vítima permanece consciente até a fase de excitação, quando contrações na musculatura da garganta dificultam a deglutição, a hidrofobia é caracterizada por espasmos violentos na presença de água, essa reação não é observada no cão. Nesta fase pode advir hostilidade, agressão, alucinação e ansiedade extrema resultante de estímulos aleatórios visuais e acústicos, culminando com a paralisia, asfixia, coma e morte. O homem e os animais domésticos são hospedeiros acidentais, o grande reservatório natural da raiva são os animais silvestres. Cães e gatos devem ser vacinados anualmente contra a raiva, em beneficio de homens e animais. Quando o assunto é raiva lembro-me do grande catedrático Dr. Renato Silva e suas imemoráveis aulas de virologia nas salas da UFRRJ.

Doenças que assustam

Desde o início do ano quase uma centena de mortes foi registrada, principalmente na região sul do país, devido à gripe A que tem como protagonista o vírus influenza H1N1. Normalmente não é muito patogênico, causando sintomas leves em suas vítimas, mas é bom lembrar que variantes atipicamente severas podem ocorrer em suas mutações, como exemplo a da espanhola que assolou o mundo matando quase 100 milhões de pessoas entre 1918 e 1919. O vírus da gripe tem vários subtipos e atinge os equinos, suínos, aves, focas e o homem. O H1N1 é resultado de fragmentos genéticos desses hospedeiros e é o mais novo vírus originado de animais a afetar o homem. A Febre maculosa veiculada principalmente por carrapatos não é tão letal, a demora no diagnóstico pela sua similaridade inicial com outras enfermidades é que a torna perigosa. A Hantavirose possui alta letalidade, é transmitida por ratos e cresce principalmente na região sul do país. O hantavírus provoca hemorragias e alterações cárdio pulmonares que podem ser fatais. A Leishimaniose inicialmente silvestre é hoje um grande problema de saúde no mundo, tem o cão como reservatório nas cidades e encontra-se em expansão; das doenças parasitárias só perde para a Malária. No início do século foram registrados trinta e um mil casos, é uma zoonose em franca urbanização. A Dengue que apresenta uma forma hemorrágica mortal já faz parte de nosso cotidiano, é transmitida pelo Aedes aegypti, que também veicula a temível febre amarela na Amazônia com casos isolados em alguns estados. O Mal de Chagas inicialmente restrito aos mamíferos silvestres como gambá, tatu e roedores, infectam hoje quase cinco milhões de pessoas no país. Na década de 80 dezenove estados com quase dois mil municípios foram considerados zonas endêmicas dessa zoonose. A crescente urbanização chagásica resulta da migração rural, forçada pelo desequilíbrio social e econômico. O Brasil é o maior celeiro de Arbovirus (vírus transmitidos por artrópodes, como os mosquitos) no mundo, onde cada espécie vegetal ou animal alberga pelo menos um tipo. Das treze dezenas catalogadas até o momento, um pouco mais de três infectam seres humanos. São responsáveis por doenças febris como Dengue clássico, Mucambo, Xingu e as febres hemorrágicas, Dengue 2, Hantavirose e Amarela, além da encefalite Tucunduba. Barragens, monoculturas, garimpos, hidrelétricas e a ocupação desordenada e predatória do solo, das matas e florestas afetam de maneira constante o ciclo natural dos micros agentes patogênicos, retrazendo doenças perigosas para a atualidade.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Adote um animal

A adoção com responsabilidade é um dos mais admiráveis gestos que provêm da alma humana, quem adota se preocupa com a criação divina e fortalece o approach da bondade, que cada vez mais se perde nas sendas dos tempos modernos. O convívio com os animais é uma das poucas ligações que o homem contemporâneo ainda mantém com a natureza. Os animais são nossos coadjuvantes nessa terrena missão, nos acompanham a milhares de anos, emprestando a sua fidelidade e contribuindo para o bem estar da humanidade. Policiam, resgatam vítimas de afogamento, incêndios e terremotos, guiam cegos, elevam o astral de idosos asilados, proporciona melhor interação nos manicômios, abrandam as dificuldades dos autistas e dos portadores de necessidades especiais, como os auditivos, locomotivos e visuais. Em crianças dependentes de cuidados específicos, contribuem melhorando a autoestima, estimulando as habilidades pessoais e a comunicação não verbalizada. O afeto com os animais estimula nosso cérebro a produzir a endorfina e serotonina, neurotransmissores relacionados ao nosso bem estar. São capazes de antever uma crise convulsiva em epiléticos e perceber o aumento da curva glicêmica em diabéticos. O contato com os animais remete-nos ao mundo real, de toque, presença, troca, autodescoberta e tornam-nos melhores, mais esperançosos, sensíveis e tolerantes. Para uma boa formação social e psicológica, que acontece na idade evolutiva da criança, a relação equilibrada com animais é fundamental. É de conhecimento que a convivência harmônica com os animais reduz a hipertenção, ansiedade e depressão. Proteger um animal desamparado é uma obrigação, pois somos os únicos responsáveis pelas mazelas, dor e sofrimento que passam nas curvas da vida humana. Temos ferramentas para reverter a situação de abandono, maus tratos e posse irresponsável. Só depende de nós. Adote um animal, a natureza lhe recompensará. (Jornal Cachoeiras 15 06 2012)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Simbologia animal

Filósofos gregos da antiguidade notaram nos animais reações psíquicas parecidas com as do ser humano. Muitos desses pensadores foram apedrejados e torrados em fogueiras inquisitórias por seus comportamentos heréticos, que profanavam a concepção medieval do Divino. Qualquer deturpação de credo religioso, paradigma científico ou sistema filosófico estabelecido era penalizado com o sofrimento e a morte. Aos animais era atribuida, principalmente, a função de mediadores entre o mundo dos vivos e o dos mortos. No Egito antigo, gatos, serpentes e pássaros eram deusificados. Anúbis, o deus da morte, era representado por um híbrido de homem e cão, e o touro Ápis, considerado um semideus, banhado de joias era idolatrado pelos sacerdotes. Algumas mensagens espirituais Cristãs são simbolizadas por carneiros, pombas e peixes. Anjos celestes também não deixam de ter uma característica animal com suas poderosas asas que lhes permitem volitar como os pássaros. No mundo dos infernos, demônios davam cornadas, abanavam suas longas caudas e apareciam aos padres anacoretas antes que o fogo inquisitório varresse toda a Europa. Até o chefe supremo das trevas, Belzebu, se transveste em humano com grandes asas de morcegos, pés de pato e cauda de leão. O bode é a forma preferida do canhoto em seus colóquios bestiais, há relatos de que também usou a forma de cão entre as quatro ou cinco relações carnais que teve com a bruxa Françoise Secrétain. O bode também representa o instinto, a força genesíaca, a natureza animal humana. São também vítimas da demonologia as serpentes, corujas, sapos, touros, bodes, gatos, lobos, abutres. Anjos e diabos tem algo parecido com os animais, não precisam de roupas, a não ser, os Querubins e Serafins que próximos à vergonha humana tem de se cobrir com túnicas angelicais. Só recentemente o manto que encobre as filosofias pré-cristãs começa a ser retirado e a preocupação dos antigos hereges e profanadores se faz novamente presentes.  O animal age por instinto e inteligência inata, o homem, que assim agiu no passado, é comandado pelo ego e ignora a inteligência do coração. É inegável que animal e homem habitam mundos diferentes; um vive o mundo real e o outro fugindo dele.  (Jornal Cachoeiras 12 05 2012)

quinta-feira, 3 de maio de 2012

A moral amoral

Desrespeitar outras obras da criação é parte do grande declínio pelo qual trilha a humanidade. Se o homem é cruel com a própria espécie, o que esperar com relação aos animais. Seu robustecido ego agrega uma legião de defeitos e dentre eles os relacionados à selvageria com nossos irmãos menores, que em determinadas situações beiram à raia da torpeza. Ocupamos mais de um nível trófico na cadeia alimentar, somos onívoros e também o maior predador. Que diga o boi, o carneiro, a ave, o porco e até o sofrido jegue, que depois de uma vida de labuta se aposenta como carne seca. O frango passa por um bom pedaço até virar galeto, sem falar do ganso ininterruptamente entupido de comida até seu fígado gorduroso ser arrancado e virar patê para satisfação de nosso refinado paladar. A indústria da carne é crudelíssima e, como consumidor, contribuímos com o sofrimento e a matança. Sufoco também passam as cobaias de laboratório, imoladas em prol de nossa saúde e da indústria de cosméticos na qual, gatos, ratos e coelhos são mortos em nome da futilidade. Na caçada imoral no Pantanal onças pintadas beiram a extinção, também os animais arrancados da mata pelo tráfico de animais silvestres. Por estarem próximos, os maus tratos aos animais domésticos são mais visíveis. Segundo o “Humane Society International” (HSI), a grande maioria dos animais de famílias com violência doméstica, são maltratados, violentados ou mortos em seus lares. Na agroindústria, animais são sistematicamente torturados por anos até o abate, suas lágrimas são revertidas em lucros e é no ocidente onde a crueldade é maior. A imoralidade é humana, os animais não transgridem a moral, causam dor e sofrimento dentro de uma lei natural, pela sobrevivência ou perpetuação da espécie. Sabem que impor sofrimento aos mais fracos, além de amoral, é uma covardia. “A assunção de que animais não possuem direitos e a ilusão de que nosso tratamento para com eles não possui significância moral, é um ultrajante exemplo da brutalidade e barbárie do ocidente. Compaixão universal é a única garantia de moralidade”. Arthur Schopenhauer. (Jornal Cachoeiras 05 05 2012)

sexta-feira, 27 de abril de 2012

A pior epidemia

Na endemia a enfermidade é restrita a uma área como ocorre com a malária e a febre amarela na região amazônica; a epidemia apresenta um caráter mais abrangente, envolve áreas mais populosas como acontece com a dengue no Rio de Janeiro; na pandemia o alcance é transcontinental, são exemplos a cruel gripe espanhola que matou Rodrigues Alves, a asiática, a Honk Kong e a dantesca peste negra. Barragens, fazendas agrícolas, monoculturas, garimpos, hidrelétricas e a ocupação desordenada do solo e predatória da floresta vêm alterando de maneira galopante o ciclo de micro agentes patogênicos, expondo a espécie humana e outros animais a perigosas enfermidades. A Febre maculosa veiculada por carrapatos possui letalidade baixa; a demora no diagnóstico, pela sua similaridade inicial com outras enfermidades, é o que a torna perigosa. A antavirose transmitida por ratos, cresce na região sul do país. A leishimaniose inicialmente silvestre é hoje um grande problema de saúde pública no mundo e nas cidades tem o cão como reservatório. A Dengue que apresenta uma forma hemorrágica com mortandade considerável já faz parte de nosso cotidiano, é transmitida pelo Aedes aegypti, que também veicula a temível febre amarela. O mal de Chagas do barbeiro, acomete quase cinco milhões de pessoas no Brasil. A crescente urbanização chagásica resulta da migração rural, forçada pelos desequilíbrios sociais e econômicos. A pobreza, pior epidemia que grassa em nosso meio não possui caráter infeccioso ou parasitário, tem como gênese a desigualdade e exclusão social, a concentração de renda, a gatunagem explícita e a corrupção crônica. O controle dos males microbiológicos é possível com a participação responsável da população, junto a uma estratégia científica transparente do poder público. O combate a “pior epidemia” passa pelo despertar da consciência enfrascada pelo atraso, desinformação, ego e passividade. Uma população com saúde só será possivel se for atingido um padrão saudável de vida, com suas necessidades humanas e fundamentais satisfeitas. (Jornal Cachoeiras 28 04 2012)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A maior transgressão

Segundo historiadores, a palavra canibal deriva dos idiomas caribes dos caraíbas, corrompida por Colombo que chegou a costa noroeste cubana em 1492. Alguns acreditam que os primeiros cristãos foram perseguidos pelos romanos por terem relação com sacrifícios humanos. O pão simboliza a carne e o vinho o sangue na comunhão cristã, o que leva alguns acreditar ser uma representação um tanto quanto canibal. Comer a carne e beber o sangue de nosso semelhante é extremamente desconfortável para a nossa mente, e é tido como a maior transgressão, sendo abominada até em alguns orcos da maldade. Estamos no topo da cadeia alimentar a séculos, seria inconcebível sermos comidos. No passado os Aghoris, da seita dissidente do Hinduísmo, aqueles que amassavam seus pênis para cortar o elo com a geração seguinte, degustavam a carne como reforço no caminho para a iluminação. Os atuais não comem mais carne humana, mas ainda vão aos crematórios à procura de cinzas e brasas fumegantes para aquecer seus alimentos e bebem em cuias de crânios humanos, que também são usados como tigela na mendicância. Os astecas banqueteavam braços e pernas em ritos cerimoniais onde átrios, ventrículos e miocárdios dos corações eram reservados aos sacerdotes Circunstancias extrema também levam ao antropofagia, foi o que aconteceu com os marinheiros náufragos no século XIV e com o acidente aéreo nos Andes em 1972, quando tiveram que romper a barreira da moralidade comendo a morte para não morrer de fome. No passado populações famintas devoravam seus semelhantes, como aconteceu no cerco de Jerusalém em 70 DC e na grande fome da China. Recentemente casos foram registrados na guerra civil da Libéria, em Serra Leoa, na Uganda de Idi Amin e no cerco de Leningrado quando guardas ficavam de prontidão nas imediações dos cemitérios, preservando os cadáveres do povo enlouquecido e desmoralizado pelas atrocidades do nazismo durante a Segunda Grande Guerra. Nos contos de fadas os canibais estão presentes em João e Maria, João e o Pé de Feijão, Branca de Neve e outros. Até nosso linguajar tem certas conotações canibais como em “Quero te morder ou te comer toda”, “Você é gostosa”. O que aconteceu em Garanhuns mostra que o canibalismo caminha com a humanidade. Perguntaram a Jorge Negromonte que demônios o atormentavam para tão bárbara transgressão e se se considerava inocente, o que respondeu: um querubim e um arcanjo eram meus conselheiros e, existe algum inocente numa guerra?. (Jornal Cachoeiras 21 04 2012)

sábado, 14 de abril de 2012

Vacinas e vacinas

Vacinas são micro-organismos mortos ou atenuados que introduzidos no animal induzem a formação de anticorpos que o resguardarão das enfermidades infecciosas correspondentes. As importadas são utilizadas sòmente por profissionais veterinários, e a nacionais encontradas em lojas e pet shops. Aplicar uma vacina qualquer um faz, é só levantar a pele do animal e injetar . Vacinar é ter conhecimento do produto, planejamento, acondicionamento, conservação e avaliação clínica. Animais enfermos, debilitados, no cio, gestantes ou infestados de parasitos não responderão bem a vacinação. Também os idosos, os tratados com drogas anti-inflamatórias imunossupressoras e os excessivamente consanguíneos. Tanto as aéticas (nacionais) quanto as éticas (importadas) passam por controle de qualidade, quando são aprovadas e licenciadas pelo Ministério da Agricultura. Os laboratórios multinacionais desfrutam de melhor tecnologia e investem mais em pesquisas, o que não confere tanta diferença nas suas qualidades imunizantes. Os fabricantes reservam às importadas versões mais atualizadas que são entregues diretamente nas clínicas e consultórios; as outras são comercializadas e até aplicadas no balcão de uma loja, que em alguma etapa do processo de distribuição e conservação, pode ter seu efeito comprometido. Devem ser mantidas sob-refrigeração continua entre 4 e 8 ºC, temperaturas diferentes as inutilizarão. Além das vacinas contra raiva, babesiose, traqueobronquite infecciosa, dermatofitose, giardiase e leishimaniose visceral os cães são vacinados com a polivalente v8, v10 ou v11, que na verdade imunizam conta sete doenças. A óctupla, além dos antígenos contra a cinomose, hepatite, adenovirose, parvovirose, coronavirose e parainfluenza, vem com duas cepas de Leptospiras (canicola e icterohaemorrhagiae), a décupla com mais duas (grippotyphosa e pomona) e a undécupla com mais a copenhageni. A vacina contra as leptospiroses imuniza por seis meses. Em locais onde esta zoonose é prevalente é aconselhado reforços semanais. (Jornal Cachoeiras 14 04 2012)

sexta-feira, 30 de março de 2012

Animais errantes

O aumento da população de animais errantes tem relação direta com o crescimento urbano desordenado. Os cães possuem um convívio estreito com o homem, tanto que, dentre os animais domésticos são considerados os seus melhores amigos. Desamparados por razões diversas disputam com a fauna sinantrópica, (ratos, baratas, pombos e caramujos) restos de alimentos nas latas de lixo. O desenvolvimento humano é diretamente proporcional ao amor e ao respeito à vida animal. Nas Escrituras Sagradas ele é citado em vários livros, como em Provérbio 12:10: “O justo olha pela vida de seus animais; porém as entranhas dos ímpios são cruéis” e em Eclesiastes 3:19-20): “Porque o que sucede aos filhos dos homens sucede aos animais; o mesmo lhes sucede: como morre um, assim morre o outro, todos tem o mesmo fôlego de vida, e nenhuma vantagem tem o homem sobre os animais, porque tudo é vaidade. Todos vão para o mesmo lugar, todos procedem do pó e ao pó tornarão”. Em nosso Município os cães abandonados representam uma minoria, quase que a totalidade que perambulam pelas ruas da cidade em busca de alimento ou correndo atrás do prejuízo sexual possui residência fixa. Animais mórbidos, sofredores e vagantes desarmonizam com a evolução urbana, além de demonstrar atraso no desenvolvimento social. Os sentimentos humanitários com ações isoladas ou não, aliviam a pressão física e psicológica impostas aos animais domésticos, atenuando de certa forma seu sofrimento; mas medidas voltadas a educação e conscientização têm de serem priorizadas. Elas operam na gênese do distúrbio. Os adultos truculentos que batem, chutam e impõe fome aos animais, os carcereiros que aprisionam as aves dos céus e os indiferentes que lhes viram a face e nada fazem para atenuar sua dor já são oblíquos, cresceram tortos e permanecerão tortos. Nos indivíduos em formação, crianças e adolescentes, a educação continuada previne esse desvio de conduta antinatural, resgatando com o tempo o respeito e a dignidade com relação à vida animal. (Jornal Cachoeiras 31 03 2012)

sexta-feira, 23 de março de 2012

O animal do futuro

Há dez mil anos antes de Cristo, quando utilizado no controle de roedores que infestavam a região do Crescente Fértil, entre os rios Nilo, Tigre e Eufrates, teve início a domesticação dos gatos. Os atuais descendem de uma espécie malhada que habitava a Mesopotâmia e o esclavagismo se deu quando a humanidade ainda engatinhava na agricultura. É o animal doméstico mais adaptado a vida moderna, a relação do gato com o homem é cada vez mais intensa, fortalecida por seu silêncio, discrição, notável adaptação a espaços reduzidos e por melhor tolerar a solidão. Em alguns países sua densidade populacional aproxima-se, e até supera, a dos cães. Há quem diga que sua domesticação ainda não se completou, e que muitas características ocultas, ainda virão à luz da etologia. No século XIII com a promulgação das bulas condenatórias aos gatos, o papa Gregório IX mandou exterminá-los sob a justificativa de que serviam a satã, o que saiu caro para os europeus. Os ratos proliferaram e associados à precária higiene da época disseminaram a pulga responsável pela peste bubônica que dizimou um terço da população daquele continente. Se no catolicismo os gatos foram execrados, no islamismo salvou a vida de Maomé quando impediu que uma serpente peçonhenta o matasse. Kathy Hoopmann, autora do livro “All Cats Asperger Syndrome”, compara os gatos a portadores humanos de Asperger, anomalia caracterizada por dificuldades no convívio social com preservação da parte cognitiva. Portadores desta síndrome têm dificuldades na comunicação, na percepção sensorial, na sociabilidade e na adequação a mudanças. Einstein, Hitchcock, Newton, Bill Gates, Michelangelo, Mozart e Leonardo da Vinci sofreram deste transtorno de espectro autista. Eles nos toleram porque na sua fase de socialização o homem estava perto. O ponto crítico é entre segunda e sétima semana de idade, gatos que durante esse período não tiveram contato com o homem serão desconfortáveis com sua presença. São predadores contumazes que dependendo da amplitude, pode comprometer o equilíbrio da fauna local. Essa forte tendência predatória pode ser atenuada evitando o contato do filhote, durante a fase de socialização, com suas possíveis presas. O gato é um animal interessante, amigo, sagaz, limpo, sensível e dotado de percepções que transcendem o nosso tempo. É o animal do futuro, entendê-lo e amá-lo também é parte de nossa evolução. (Jornal Cachoeiras 24 03 2012)

sábado, 17 de março de 2012

Esterilização. Necessária e controversa

Na fêmea a contracepção se dá de três maneiras: pela supressão do cio já iniciado, seu retardamento temporário e anestro inflexível através da ablação do útero e ovários, no macho são retirados os testículos. São meios alternativos, a laqueadura e a vasectomia, nem sempre satisfatórios. Muitas são as vantagens da esterilização cirúrgica, tanto na esfera comportamental como na relacionada à prevenção de enfermidades ligadas a reprodução. Este procedimento é um forte aliado no controle populacional dos animais renegados e dos que domiciliados vagueiam pelas ruas. O método é eficaz quando contíguo a medidas elucidativas voltadas a posse com responsabilidade e ao respeito à vida. A matilha humana tem de ter a consciência desperta e sofrer medidas educativas e restritivas pro bem estar de nossos irmãos menores. Os que sofrem os percalços da vida errante podem albergar zoonoses, doenças comuns ao homem e animais. A esterilização cirúrgica suprime a pseudociese ou falsa prenhez e reduz significativamente a incidência de tumores mamários quando realizada antes do primeiro cio. Se feita após, a probabilidade tumoral aumenta e, depois do terceiro ciclo o efeito preventivo já não mais existe. As doenças sexualmente transmissíveis e o risco de graves infecções uterinas desaparecem com a ováriosalpingohisterectomia, embora a infecção possa acontecer na parte da cérvix uterina remanescente e desenvolver a síndrome do ovário persistente se sua retirada das gônadas for parcial. A cirurgia mutilante, segundo pesquisas, tem lá suas implicações: vulva infantil com dermatite recorrente, incontinência urinária, síndrome urológica felina, hipoandrogenismo, diminuição da atividade física voluntária e obesidade que, se não controlada, põe a saúde do animal em risco. Com a retirada da glândula sexual e seus hormônios o metabolismo decresce, a atividade física diminui e o limiar de saciedade aumenta, levando ao ganho de peso e suas consequências, que podem ser evitada com atitudes racionais e nutricionais. O despertar da sociedade para o problema vai de encontro à necessidade de ações voltadas aos nossos parceiros urbanos, que na convivência com o homem perderam sua autonomia relativa. A Associação Cachoeirense de Defesa Animal (ACDA) vem resgatar parte da dívida que contraímos com os animais domésticos ao longo dos tempos, proporcionando-lhes bem estar físico psicológico e norteando atitudes que vão de encontro ao zelo e ao respeito, imprescindíveis à ecologia social, fomentando a responsabilidade e consciência coletiva no trato com os animais. (Jornal Cachoeiras 17 03 2012)

sexta-feira, 9 de março de 2012

Baratas tontas

O pavor doentio que sentimos vendo uma simples baratinha tem lá sua razão, esses milenares seres vivem em locais impregnados de micróbios perigosos que, de carona, chegam à nossa cozinha, ao nosso alimento e ao nosso organismo. Além de praga, a barata doméstica é completamente inútil, não serve pra coisa nenhuma. São seres da escuridão, só transitam durante o dia se a concorrência for grande, isto é se seus esconderijos estiverem com lotação completa. Não sentem dor e são capazes de viver sem cabeça e tirar de letra uma “hecatombe nuclear” sem grandes dificuldades. Esmagada mostra uma asquerosa gosma branca que é a gordura de reserva que as mantém vivas no período de escassez de alimentos. Agressivas e malacafentas, possuem por nós uma atração fatal, não é a toa que quase a totalidade das mulheres e significativa parte dos homens sofrem de catsaridafobia com seu suor frio, falta de ar, mãos geladas, palpitação e histeria. As voadoras são as mais temidas, aparecem de algum lugar quando menos se espera, e quase sempre em nossa direção, deixando-nos baratinados como “baratas tontas”. Dizem que os artrópodes do longínquo passado eram abissais, como também as baratas. Talvez esse “pavor inexplicável” tenha alguma relação com a lembrança distante do pânico ancestral, quando éramos acossados e engolidos por eles. As baratas atuais não saem por aí mordendo como umas loucas, porquanto não é justificável o alarido frenético diante da barata do esgoto “Periplaneta americana” ou da francesinha “Blatella germanica”. Alguns defendem a teoria de que projetamos na barata o pavor inconsciente da sexualidade e suas fantasias. Essa entomofobia pode ter relação com um contato prévio muito desagradável ocorrido na infância, ao subir por nossas pernas ou entrar debaixo da coberta quando dormimos. Grande maioria das espécies é silvestre e devem ser preservadas, elas devoram os cadáveres animais e vegetais decompondo o lixo orgânico no solo e tem relevante importância na cadeia alimentar. (Jornal Cachoeiras 10 03 2012)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

"Piratas" hei de ser até morrer

Saindo de um navio pirata que encalhou na boca da avenida, corsários invadem a Floriano Peixoto, e com um único tiro de canhão colore de confete e serpentina a multidão, arrastada por afinados músicos de sopro e percussão. Fausto Costa, Elesbão, Edésio, Zeca, Vanderlei Navega, Veiter, Baltair e Lili Moreira conduzia na cadência do samba a galera que cantava com todo seu íntimo o amor de Luciano pelo bloco: “Enquanto existir você Piratas, eu hei de ser até morrer. Você é quem me dá alegrias Piratas, você é quem me dá prazer. Deixa falar que eu ligo não, quero abrilhantar o meu cordão. Quando vejo as cores preto, encarnado e branco, sinto alegria no meu coração...”. Porta estandartes e bandeiras vestiam com galhardia o manto rubro negro ornado com finas lantejoulas, paetês, vidrilhos e rendas francesas. Zeir, Marli Sarzedas, Maria Joaquina, Chichica, Selma, Janete Neto, Nanci Ade e Lurdinha envolviam turistas e foliões numa reluzente áurea de graça e magia. Acompanhados por uma nuvem de mariposas fototrópicas que rodopiavam sobre as reluzentes bengalas incandescentes, os balizas preservavam sua companheira e o estandarte por ela carregado. Samuel Donegati, Almir Lagoas, Betinho e Geraldo Coutinho encantavam os foliões com um bailar parecido com as aristocráticas danças de salão, cortejando com seus leques coloridos o fascínio das suas portas estandartes. Também originário dos “Filhos da Lyra” da lendária porta Zilda do Vale, o Piratas nasceu na casa de Osório Souza em março de 1947. Há quem diga que o nome do bloco surgiu do “Pirata da perna de pau, do olho de vidro e da cara de mau”, sucesso de Braguinha cantado por Nuno Roland no carnaval daquele ano. A “galera” com garotas na guarnição se concentrava no Poço Verde antes de tomar de assalto a avenida. Até a construção de sua sede, onde Erasmo Carlos chapado de aguardente “Centenária” só conseguiu cantar duas músicas, a Escola Ferroviária 28 de Fevereiro foi palco de animados bailes, festas de formaturas e concursos de beleza. Noel Rosa, Emilinha Borba, Chiquinha Gonzaga, Ary Barroso, Lamartine Babo, André Filho e tantos outros compunham o que o Rio de Janeiro e Brasil cantavam sob a inebriante névoa dos lança perfumes. O regime de exceção instalado em 64 incomodado com a malícia das suas letras calou suas vozes e as saudosas e lentas marchinhas pararam de vez. No centro de Cachoeiras o duelo era inevitável, Perna Fina remoinhando sua capa azul e Samuel volvendo seu manto vermelho riscavam com seus leques aquelas perfumadas noites, entrelaçando num compasso singelo, a querela e a paixão, pra delírio da multidão. Segundo a lenda, Cupido criou o leque ao arrancar uma asa de Zéfiro, deus do vento, para refrescar sua amada Psique enquanto dormia. Até o romano Baco ou grego Dionísio reinar, na oficina da Leopoldina Luciano Santos e Enedir Gonçalves, já brincavam com provocações, e numa dessas Calixto profetizou: “Quem é você pra desacatar meu improviso, quem é você pra me dar aviso. Quem é você pra cantar perto de mim. Você diz que tem anel, você diz que é bacharel, mas você representa um falso papel. Você só dá palpite infeliz. Oh! Meu amigo, você não sabe o que diz”. Embora a cordialidade e a alegria regessem alguns contra tempos atravessavam a avenida. A veterinária ainda “caminhava” naqueles tempos, e nada pode fazer pelo Cavalheiro morcego com fratura exposta na asa esquerda, depois de um “arriar cordas” com o flibusteiro Dino Cascudo. Sentado a bombordo da embarcação um macambúzio pirata chora aos cântaros uma paixão. A filha de um comerciante, vestida de azul e branco, não lhe dava bola por ser vermelho preto. Gelson Fontes que ergueu a sede própria, Luciano dos Santos, Doca Monteiro, Dalmo Coelho, Fernando Sapateiro, Jason Peixoto, Ivan e Batista Brandão, Derli Pinto, Deco, Zizinho Monteiro, Érico, João Fagulha, Élson Bodega, Enéas, Banana Ouro, Caíco, Paulinho Ferraz, Carlos Valadares, Pinduca, Cleir, Rosinha Califfa e muitos outros amaram o Piratas incondicionalmente. Responsáveis pelo esplendor do bloco - Ozorina, Marilena, Zelina Ferraz, Luiza, Maria Emília, Odilon Cerqueira, Celeste, Jacy e Luiza Reis, Esther, Ordália, Natalina, Sucena Ade, Leontina, Eurídice Neto entre outras costureiras e bordadeiras voluntárias - guarneciam os veludos, sedas e cetins que deslumbrariam nas noites de carnaval olhos curiosos de caçadores, cavalheiros e animados foliões. A bordo do navio agradeço a Nanci Ade, Marilena Pinheiro, Paulinho Ferraz, Tãozinho, Marilene Donegati, Belclair e Odilon Jones pela gostosa viagem àqueles tempos em que o lendário Calixto atracou pela última vez no paraíso das águas cristalinas. (Jornal Cachoeiras 25 02 2012)

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Amor, brilho e paixão - "Cavalheiros do Luar"

O frenesi tomava conta do então Paraíso das Águas Cristalinas quando as aguardadas fantasias em azul, branco e vermelho entravam na folia, protegidas por morcegos que afastavam do caminho, índios, mascarados, colombinas, arlequins, pierrôs, lobisomens, vampiros e foliões. Os arrepiantes quirópteros, desfilando na frente do cordão de isolamento, agitavam sem parar os dactilopatágios de suas asas, para que o luxo e a beleza das fantasias, que inebriavam de luz as ruas da cidade, desfilasse. Bengalas incandescentes aceravam o brilho e o glamour das portas estandarte e bandeira, dos destaques infantis e das fileiras de damas e cavalheiros, revelando após meses de tensão o encantamento contido em seus corações. A exuberância e o fulgor de Lidinha, Maria José, Reni, Ivete, Eli Suppo e Nêga eram conduzidos com leveza pelo leque do “baliza”, que estadeava uma capa aveludada em plissé, presa no dedo por uma argola. Perna Fina, Vital Neblina, Ezequiel e Esirlei ditavam na cadência afinada dos músicos o compasso da porta estandarte, que trajava uma fantasia inédita que vestiria a porta bandeira do ano seguinte. No auge da folia, anáguas guardadas a sete lantejoulas, mostravam de relance, discretos bordados, para desatino de cavalheiros e simpatizantes e inveja das concorrentes. O clube nasceu de encontros, chás, livros de ouro e mutirões e, é lógico, dum esquenta bateria do comércio local. Lanches coletivos e refrescos de groselha embalavam o ritmo da alta costura. Célia, Ivete, Mercedes, Glória e muitas outras bordadeiras mantinham bem longe de Piratas e Caçadores os seus segredos de linhas e pedrarias. Muitos matrimônios felizes e outros nem tanto, nasceram de provas de amor proferidas nas perfumadas noites azul e branca. Houve tempos em que moças e rapazes que se “engraçavam” pelas cores rivais, perdiam o rebolado no bloco, quando não sofriam repreenda familiar pela ousadia. Mesmo parentes, se de blocos diferentes, não podiam se encontrar nos meses que antecediam a grande festa. Ser uma musa daqueles carnavais não era pra qualquer uma, era necessário dote, requebros e um generoso padrinho, suas fantasias eram adornadas com material trazidos da Europa. Bons tempos aqueles em que águas cristalinas refrescavam o carnaval e a ardente “centenária” mexia com a cabeleira do Zezé, que meio chapado não parava de cantar: “me dá um dinheiro ai” ou “você pensa que cachaça é água”. Em todo lugar, “as águas vão rolar”, não saía da boca do povo. E rolaram. Pouco tempo depois, o golpe de 64 matou o sonho e calou a voz do cavalheiro Enedir Gonçalves que compôs “Cachoeiras meu torrão” em 1947 - ... Vem ver de perto a lua, e quem passa pela rua, vê o traço de união, salve Cavalheiros e Piratas que são filhos do mesmo torrão. Quando as cordas de isolamento se roçavam, as afrontas eram inevitáveis, mas prevalecia a cordialidade e o bom senso. Em casuais encontros, o cordão era arriado em reverência ao “irmão” que passava, e a emoção tomava conta do pedaço quando trocavam de baliza que por alguns instantes regia a porta estandarte adversária, num singelo gesto cavalheiresco. Agnaldo, Uriel, Ariosaldo, Orácio, Ilma, Alcides, Chichica, Nicomedes, Luiz Fren, Adelino, Ademar e tantos outros foram Cavalheiros do Luar com intensidade e paixão. O bloco venerava seus ilustres integrantes, sambando até as suas residências, numa reverência toda especial. Cachoeiras de Macacu tinha o melhor carnaval do antigo Estado do Rio. A pensão da Dona Niza em Boca do Mato lotava de turistas, principalmente homens, levando as curiosas beldades cachoeirenses a um discreto passeio naquele balneário. Com a morte da ferrovia, a cidade perdeu o encanto e o carnaval não mais viu os Caçadores, Cavalheiros e Piratas. O esporte ficou sem o São José, Independente, Ipê e Onze Unidos e a cultura submergiu com a falta do SENAI, Liceu, Cine Virgínia e Brasil. Na próxima edição do Jornal Cachoeiras um navio pirata ancora em Macacu, tomada de assalto pelo preto, vermelho e branco. Agradeço com alegria a Adelino de Jesus, Nilcinea, Esirlei Silva, Manoel Melchior, Alaíde, Dulcineia, Marcos Souza e Rui Coelho pela paciência que tiveram, mexendo o fundo do baú e trazendo para a atualidade um tempo que com o tempo se vai. (Jornal Cachoeiras 11 02 2012)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Flechas e canhões no embalo dos Caçadores

O safári teve início quando, do Bloco do Boi, surgiu os Caçadores. Algum tempo depois Chico Pinto praticamente doara o terreno onde foi edificada a sede, ele sonhava com os Caçadores disputando com Pitaras e Cavalheiros a hegemonia daqueles carnavais. O povo ergueu-o em tempo recorde com campanhas e mutirões, como do cimento, do alicerce, da feijoada e do angu à baiana, ajudando Waldemiro Goulart e sua equipe, que de tijolo em tijolo realizava aquele sonho. O bloco cresceu tanto que não suportou o peso do seu estandarte, sucumbiu com o tempo, como aconteceu com os coirmãos. Das vezes que botava o bloco na rua, a cidade viajava dentre as matas, travestida de silvícolas, caçadores e animais selvagens para encantamento de moradores e turistas. O Campo do Prado era só contentamento, o arrastão ia até o final da Av. Roberto Silveira e voltava empolgado em direção ao Centro, carregando seu pavilhão na cadência dos seus músicos. Na Av. Floriano Peixoto o povo já saçaricava com lata d’água na cabeça e cantava daqui não saio daqui ninguém me tira, pro general da banda que passava. A cordialidade e a simplicidade eram a marca dos “Caçadores”, narrada na marchinha de Nelson Fonseca em homenagem ao azul e branco e ao vermelho e preto: Confetes rolando no chão, serpentinas subindo com o esplendor, aceitem Cavalheiros e Piratas a saudação de um Caçador... As cores das fantasias, com base verde e amarela, brincavam de acordo com o enredo e “Caroço” musicava com maestria os arranjos que dançaricava o bloco ladeira abaixo. Flechas, arcos, tacapes, facas e espingardas, tomavam conta da cidade e bonitas indumentárias mostravam de forma harmônica a natureza, seus encantos e sua magia. O clima esquentava quando no fastígio da empolgação os caçadores apontavam o canhão, e num certeiro tiro, envolvia de coloridos confetes, concorrentes e multidão. Enquanto isso entre índios e caçadores, Euzébio Cunha, vestindo um dantesco gorila, botava pequenos foliões pra correr. O primeiro carnaval do clube foi na Fundação Anchieta, depois no Sindicato da Leopoldina e os outros na sede própria, palco de memoráveis bailes e saudosas apresentações de famosos do rádio. A belíssima Selma Cupti, eleita a “Rainha das girls” no Teatro de Revistas do Carlos Gomes na Praça Tiradentes, foi reverenciada pelos Caçadores numa noite apoteótica, em uma das pouquíssimas homenagens que sua cidade lhe prestou. Clóvis Bornay e Wilza Carla também subiram as escadas daquele salão, exibindo luxuosas fantasias no tempo do presidente Armando Veloso. Local onde “Cinzas de amor”, interpretada por Nelson Gonçalves, já vaticinava a proximidade do fim daqueles bons carnavais. Suas matinês eram concorridíssimas. Embebedados com pipoca e guaraná, curumins, colombinas, palhaços, pierrôs e piratas mirins, soltavam sua singeleza no salão, embelezando as inocentes tardes de carnaval. A sede própria poliesportiva com piscina semiolímpica, ficou só na imaginação. Figuras de destaque como as portas estandarte Nira e Selmi e o baliza Gaspar, encantavam a platéia na evolução do bloco, dando um brilho particular aquela festa pagã que acabava em penitencia, na dor da quarta - feira de cinzas. As fantasias eram confeccionadas por Almerina, Neuza e outras imbuídas por um amor incondicional ao Clube dos Caçadores e com precisão ornavam coloridos veludos e cetins com lantejoulas, miçangas e paetês. Fernando Veiga, Deco, Darino, Zeca Botina, Nelson Dedeia, Hugo Garcia, Gatinho, Bira, Babá, Vadinho, Ermelino, Seda, Ademarina e tantos outros são singelas personagens de um tempo rico em história e tradição. Dos Caçadores quase nada restou. Perdeu sua coroa, ficou sem estandarte e acabou sua fantasia, só restaram poucas lembranças que o tempo teima em levar. Na próxima edição do Jornal Cachoeiras a Lua será testemunha daquelas apaixonadas noites dos Cavalheiros do Luar. Agradeço com o estandarte na mão a Nelson Fonseca, Nilsete, Derli e Neide. Sem eles este enredo não teria evoluído. (Jornal Cachoeiras 04 02 2012)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O samba pede passagem com Mulinha, Garrucha e DKW

Depois do alvorecer um longo apito ecoava pelos quatro cantos da cidade, acordando os operários para mais um dia de trabalho. Torneiros, ajustadores, caldeireiros, ferreiros, marceneiros e tantos outros corriam apressados pra oficina da Leopoldina – era deles a responsabilidade de manter os trens no ritmo. Entre apitos e fumaças, partidas e chegadas, o carnaval da cidade desfilava com a ferrovia. De fevereiro a fevereiro, mãos habilidosas em paetês, miçangas, vidrilhos e lantejoulas, teciam ricas fantasias em azul e branco, verde e rosa, e vermelho e preto, mantidas a sete chaves até a hora do desfile. Com a chegada dos trens os galanteadores da época corriam para a estação, na expectativa de um belo rosto feminino vindo de algum lugar. Cavalheiros do Luar, Piratas e Caçadores desfilavam entre confetes e serpentinas, embalados na fragrância dos lança perfumes franceses da Rhodia. Não eram incomuns confrontos nada amistosos quando suas cordas de isolamento se roçavam na avenida. Originalidade não faltava na festa. Figuras excêntricas tiravam no afã da folia as máscaras do cotidiano, estereotipando personagens na cadência daquele ritual pagão. A irreverência adornava a passarela com Patola, sua mulinha e seu boi, deixando em pânico a criançada. Pequenos blocos como o dos “Bichos”, “Estamos aí” e “Tamica” entre outros, prenunciavam o espetáculo de cores e beleza que envolveria a cidade. Binárias marchinhas como Bandeira Branca, Touradas em Madri e Chiquita Bacana falavam com ironia do cotidiano, de forma humorada da sexualidade e de fatos importantes da atualidade, embalando os passageiros de primeira e segunda classe nos enredos da folia. Até o velho Macacu caía na brincadeira desnudando corpos suados em papel crepom, que coloriam no apogeu do “banho a fantasia” suas águas cristalinas; acalorados por uma afinada bandinha tocando em cima da velha ponte. Nosso carnaval também sofreu a ação do tempo, perdeu sua originalidade e se transformou num emaranhado de estranhos ritmos onde o samba atravessado teima em ficar, longe dos olhos da colombina, das lágrimas do arlequim e da máscara do pierrô. Perfumado pela “Rodouro”, proibido por Jânio Quadros em 1961, o carnaval antigo transpirava amor, paixão e romantismo. Em plena Rua Floriano Peixoto, Cavalheiros e Piratas se envolviam numa momesca e respeitosa pugna diante dos olhos julgadores da consciência popular, os profissionais da estrada de ferro torciam naturalmente para o vermelho e preto. Em raros momentos de tensão as cordas de isolamento arriavam e algumas diferenças eram acertadas. A modesta iluminação pública era reforçada pelas bengalas de fogos incandescentes, acentuando a beleza, o brilho e todo o glamour das fantasias que o abandono levou. O trem se foi, o rio secou, a ponte caiu e o arlequim não mais chorou nos braços da colombina que partiu. Restou a saudade e a lembrança que o tempo, fora de compasso, tenta apagar. Nas próximas edições do Jornal Cachoeiras o espetáculo continua, mostrando parte da história e particularidades dos tempos em que “a colombina andou de Vemag”, “João Badeia foi chifrado por um boi”, e “a enferrujada garrucha que Alberto Goela vendeu engasgou”.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Os vulneráveis filhotes

Após o desmame terão pela frente um grande desafio, até que se tornem adultos. Invisíveis agentes de perigosas enfermidades atentarão para os seus corpos frágeis ainda em formação. Adquirem nos primeiros dias de vida, através do aleitamento, o restante dos anticorpos maternos. Uma pequena parte já circula em seus organismos, obtidos via placenta na gestação. Condições como tamanho da ninhada, estado imunológico da mãe e desvantagens competitivas com os irmãos, tem relação direta com o grau de imunidade. Os mais fracos de uma prole numerosa e de uma mãe com dificuldades imunológicas, certamente possuirão títulos menores de imunoglobulinas conferidos pelo colostro, que logo acabarão. Se medidas de proteção, através da vacinação não forem adotadas, microrganismos letais estarão à espreita. Um programa adequado de vacinação confere-lhes uma barreira protetora, salvaguardando-os desses agentes deletérios. A primeira dose de vacina é insuficiente, aqueles anticorpos adquiridos da mãe quando mamaram, não conseguem distinguir os vírus conferidos pela vacina dos que circulam no meio ambiente, atacando-os. Daí a necessidade dos reforços a intervalos curtos nos primeiros meses de vida. Quando optamos pela guarda de um animal assumimos um compromisso com a vida e passamos a ser responsáveis pelo seu bem estar. É de bom senso que o respeito seja inviolado, maltratar um animal é atentar contra a natureza e contra a criação Divina. Mantê-los num espaço controlado não os farão menos felizes. O cão semi-domiciliado, aquele que tem casa, mas dá umas voltas, pode ser portador de doenças adquiridas com outros que encontrem pelo caminho, onde confrontos pelo acasalamento, disputas territoriais e uma mordida aqui e uma lambida ali não são infrequentes. As zoonoses, doenças comuns a homens e animais, podem por eles serem transmitidas. O canil cárcere e a corrente perpétua, nem pensar. Além de evidenciar uma atitude desumana são relacionadas à depressão, psicoses, automutilação, fobias e agressividade descontrolada. Abusos sofridos na tenra idade, justamente no período de socialização, marcam sobremaneira sua saúde emocional. Por não terem os defeitos psicológicos que carregamos, eles não violam o processo da convivência. Não adotam atitudes antinaturais. Amam, confiam e se doam incondicionalmente. (Jornal Cachoeiras 14 01 2012)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O último apito - l

Andar de trem na exuberante serra de Cachoeiras de Macacu era impressionante, umbaúbas prateadas refletiam a luz da lua, quaresmas floridas davam um toque frugal às matizes verdes da paisagem e águas cristalinas corriam a procura do Macacu, sem falar do visual, que só pela ótica dos trilhos era possível vislumbrar. Mesmo com o tempo encoberto estar sentado na poltrona verde da primeira classe, ou no desconfortável banco de madeira da segunda, não era menos emocionante; sob cerração sentia-se até um “frescor” londrino. Passageiros daquela época ficavam apreensivos com a proximidade da “curva do leão”, perto de Teodoro de Oliveira e não era pra menos, a 107 em condição de “escoteira” deu seu último apito, quando sozinha despencou no abismo, dizem que o maquinista abandonou o posto. Foi resgatada algum tempo depois. A 106 não teve melhor sorte: descontrolada, mergulhou no mesmo lugar. No Valério um vagão, que transportavam cimento caiu e desapareceu, misteriosamente, em suas águas. Há quem diga que a explosão de uma caldeira na estação de Boca do Mato ressoou como um pavoroso estrondo por entre as montanhas e que duas mulheres foram surpreendidas no meio da ponte do rio Pomba, pelo trem conduzido por Manduca, um maquinista vindo de Registro. Uma se jogou no precipício e a outra teve as mãos decepadas, tentando segurar-se nos trilhos de bitola estreita antes de cair. Acidentes acontecem até com os transportes mais seguros e não seria diferente com o trem. O pior que se tem notícia no Brasil aconteceu em Aracaju (SE), com 185 mortos na década de 40, por descarrilamento em velocidade excessiva. No mundo, é sem dúvida o de Peralyia, no Sri Lanka em 2004, com 1700 vítimas após um terremoto seguido de tsunami, superando o de Bihar na Índia onde 800 pessoas morreram quando uma composição desceu duma ponte para não atropelar uma vaca. O primeiro sistema a operar na serra cachoeirense - trazido pelos engenheiros ingleses - veio dos Alpes, região fronteiriça entre França e Itália. Era utilizado para transpor o monte Cenis, aquele que Carlos Magno atravessou com seu exército no ano de 773 para invadir a Lombardia. Suas locomotivas empurravam os vagões, por isso não tinham farol. Ouvi dizer que os britânicos sentavam no panorâmico vagão da frente, pitando seus fedorentos cachimbos serra acima. Estas máquinas foram substituídas a partir de 1883 pelas também inglesas “Baldwin” de aderência total, da North British e operavam com uma distinta função relacionada à frenagem, dezenas de toneladas comprimiam o terceiro trilho, evitando assim a patinagem. Nestas máquinas, o trilho guia funcionava também como um freio adicional.

O último apito - ll

As robustas locomotivas adaptadas aos terrenos íngremes e sinuosos levavam seus vagões, de dois em dois, até quase mil metros de altura em Teodoro, onde, novamente, contíguos seguiam viagem, puxados por uma máquina tradicional. O sistema fell de tração por cremalheira, implantado em 1873 era constituído além dos dois carris tradicionais, de mais um trilho, onde atuavam rodas horizontais dentadas, funcionando como tração auxiliar. Foi posteriormente modificado pela Leopoldina Railway para sapatas de frenagem especial. Nas estações, enquanto os freios da Baldwin de configuração 0-6-0 eram reparados, ambulantes vendiam pastéis, bolinhos de aipim, pinha (biribá) e banana-ouro aos seus ilustres passageiros. A sórdida e inconsequente política brasileira, a ganância empresarial do setor de transportes e a mão perniciosa do tio Sam, acabaram com o nosso trem. Se o ressuscitarão, só outras gerações saberão. Os que dele fizeram parte, onde estiverem, sentirão sempre emoção ao lembrarem-se do “rápido”, do “jaú”, do “expresso” e do “passeio”, deslizando na bitola métrica rumo à capital. Os ferroviários que partem, levam consigo parte da história da cidade, deixando um vazio em sua memória. Muitos sentem falta da bucólica estação de Cachoeiras de Macacu, da oficina, do armazém, do SENAI e do Liceu. Outros, sonham com a construção de um museu ferroviário e os mais românticos com uma leve e pequena locomotiva “fell”, encantando turistas numa praça da cidade. Por ironia do destino, hoje dependemos dos ônibus passantes para chegar ao Rio e a Niterói. Se o leito não fosse desativado estaríamos, quem sabe, na expectativa de um VLT (Veículos Leves sob Trilhos) que serão implantados em algumas cidades. Melhor sorte teve o ramal de Cataguases, escolhido por Antônio Erminio de Moraes para transportar bauxita da sua mina em Barão de Camargo (MG) até B. de Angra (RJ), onde hoje repousa a nossa saudosa 103. Meus agradecimentos a Antônio Peril da Silva Filho, Carlos Donegatti, Dalmo da Silva Bastos, Décio Ade, Ivo, de Boca do Mato, Zaly Alves de Azevedo e meu querido pai Taciano Rocha Filho, por, gentilmente, terem contribuído para a efetivação deste trabalho. (Dica: “A rota do indivíduo – ferrugem” – Djavan) (Jornal Cachoeiras 07 01 2012)