sexta-feira, 19 de maio de 2023

Nove vidas até o paraiso

Nove vidas até o paraíso Ronaldo Rocha Numa lenda inglesa, um gato comeu nove peixes da mesa, de uma casa onde havia nove crianças que acabaram morrendo de fome e o gato de tanto comer. Ao tentar entrar no céu foi barrado, precisando morrer nove vezes para conseguir acessar o paraíso. O gato cada vez mais se aproxima da vida humana, numa congruente relação fortalecida por seu silêncio, discrição, independência, adaptabilidade e por melhor tolerar a solidão. Seu crescimento populacional é notável aproximando, e, em certos lugares, superando a dos cães. Sua domesticação não está completa, muitas características ocultas, ainda virão à luz da etologia. Na Europa da Idade Média, com a promulgação das bulas condenatórias, justificadas pela Igreja, devido à suposta relação dos gatos, principalmente os pretos, com magias dos avernos satânicos, foram impiedosamente perseguidos sofrendo uma significativa baixa populacional. Os europeus pagaram caro por isto pois sem a atividade predatória destes animais os ratos ganharam espaço no insalubre meio urbano da época, disseminando a pulga, responsável pela transmissão da Yersinia pestis, bactéria responsável pela negra peste bubônica, pandemia que dizimou grande parte da população daquele continente. Se no cristianismo os gatos foram execrados, no islamismo salvou a vida de Maomé, quando impediu que uma serpente o matasse. Hoopmann, autora de “All Cats Asperger Syndrome”, compara os gatos aos portadores humanos de Asperger, anomalia caracterizada por dificuldades no convívio social, com preservação da parte cognitiva. Síndrome na qual seus portadores têm dificuldades de comunicação, percepção sensorial, sociabilidade e adequação a mudanças. Einstein, Anthony Hopkins, Bill Gates e dizem que também Lionel Messi tem esse transtorno de espectro autista. Os gatos nos toleram porque na fase infantil de sua socialização o homem estava perto. O ponto crítico dessa sociabilidade é entre a segunda e a oitava semana de vida, gatos que durante esse pequeno período não tiveram contato com humanos serão desconfortáveis com a sua presença. São caçadores contumazes que, dependendo da amplitude da predação comprometem o equilíbrio da fauna local, essa tendência pode ser atenuada restringido o contato do filhote, com suas possíveis presas. O gato é um animal interessante, amigo, sagaz, limpo, sensível e dotado de percepções que transcendem nossa dimensão e entendimento. Compreendê-lo e amá-lo também é parte de nossa evolução.

Nenhum comentário:

Postar um comentário