sexta-feira, 19 de maio de 2023

O lento expresso e o rápido jaú

O lempo expresso e rápido jaú Ronaldo Rocha O trem foi parte da “belle époque” de Cachoeiras de Macacu por quase um século. Entre partidas, chegadas, apitos e fumaças a cidade assistia Boris Karloff e John Wayne nas telas do Virgínia e cine Brasil, seus alunos se formavam nas escolas federais Liceu e Senai, os não tão jovens ouviam no coreto da praça, harmoniosas sinfonias maestradas por Valdemar Navega e a juventude de cabelos longos, calçando bota beatles e vestindo calça boca de sino letravam nos festivais da canção. Cheirando a lança perfume, o luxo e a singeleza de seus carnavais enebriavam os salões e na rua caçadores cavalheiros piratas encontravam a multidão. No campo, São José, Onze Unidos, Ipê , Independente e Olaria completavam o “status quo” do tempo que de trem andou. A chaminé não mais fumaçou, o apito não mais apitou e o Jaú nunca mais voltou, deixando órfã a cidade, que por quase um século o abrigou. Com o trem foi a memória ferroviária que na bitola estreita da vida descarrilhou. A oficina acabou e Cachoeiras na chegada da partida nem com um museu ficou, só olhou a maria fumaça que na curva precipitada do progresso tombou. Entre neblinas, umbaúbas e quaresmeiras transportando café, flores, passageiros ilustres e outros nem tanto assim, as valentes locomotivas caíram no abismo do fim. Nos quase cem anos que operou, desde o “sistema fell,” trazido pelos ingleses dos Alpes franceses até as máquinas da americana North British, a Estrada de Ferro Leopoldina fez parte dos áureos tempos do Jaú. No úmido leito de cremalheira, alguns percalços envolveu o sistema de frenagem especial. O que mais chamou atenção foi o tombamento de uma composição, conduzida pelo maquinista Manoel. Numa fria sexta feira de junho de 1952, o trem com problemas mecânicos serra abaixo despencou entre Posto Pena e Registro, vitimando dezenas de pessoas, entre passageiros e tripulação. Waldir, o que guardava os freios, de tudo fez pra contornar a situação, enquanto o último vagão, perfumado por rosas, cravos e crisântemos tombava a caminho da estação. Uma das vítimas fatais, o guarda freios Waldir foi esmagado após o engavetamento, resultante da brusca brecada da locomotiva. Os primeiros que chegaram no local do acidente foram, o prefeito Nilo Torres, o delegado de polícia Ibrahim Barroso e os médicos Mário Simão Assaf e José Gomes Castro prestando os primeiros socorros e removendo os feridos para a Casa de Caridade de Cachoeiras de Macacu, hoje Hospital Municipal Dr. Celso Martins.

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